A direita mostra sua cara e seus arroubos
A vitória do não à prorrogação da Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF), imposto que arrecadaria no ano que vem, segundo previsões do Ministério da Fazenda, em torno de R$ 40 bilhões, mostrou a face mais crua e sórdida da direita brasileira. No Senado, o governo obteve 45 votos a favor e 34 contrários, não constituindo os 3/5 necessários para aprovação à continuidade do tributo. Foi um golpe contra o povo, contra o “zé ninguém”, uma trama urdida pelas elites econômicas do país que não queriam ver parte dos seus lucros direcionados a programas sociais, especialmente para as áreas de Saúde. A CPMF é um imposto progressivo e atinge em cheio as grandes empresas, já que 72% da sua arrecadação provinham de volumosas movimentações financeiras.
No vácuo da vitória, ficou o riso fácil dos barões da Fiesp e de outras entidades do patronato. E a grande imprensa? Esta seguiu seu curso normal do discurso cínico, misturando diariamente alhos com bugalhos no intuito de confundir a opinião pública. Nenhuma linha, nenhum minuto foi dedicado a explicar os pequenos melindres das negociações. Não se ouviu a “procuradora-geral” Miriam Leitão dizer, por exemplo, que ficariam isentos da CPMF todos que tivessem renda de até R$ 2.800, ou seja, extratos que correspondem a mais de 95% da população brasileira e que não pagariam esse imposto. Apenas cenas e lamentos de segmentos abastados, que mediante alquimias econômico-contábeis procuravam desconstruir o sentido do tributo.
Mas a derrota deixa lições. E a primeira delas diz respeito à própria estratégia utilizada pelo Governo Federal que, diga-se, desde o início do mandato de Lula peca por estabelecer alianças com setores nada confiáveis, movidos e embebecidos por cargos e emendas orçamentárias. E tais expedientes só surtem êxitos momentâneos, pontuais e varejistas. O governo já teve tempo de sobra, desde 2002, para entender que a grande aliança que deve ser feita é com os setores populares e os movimentos sociais. Aliança esta, frise-se, cuja mão foi estendida em duas eleições com vitórias esmagadoras e expressivas. Por que a importância da manutenção da CPMF não foi tomada pela agenda dos movimentos sociais? O Palácio do Planalto elitizou o debate acerca do problema e o manteve restrito praticamente ao Congresso Nacional, enquanto que as elites econômicas, de posse dos seus canhões midiáticos, avançavam trincheiras e pressionavam seus pares no Senado Federal para captular às suas exigências.
E de nada adiantou a ação de setores oposicionistas que amargaram a derrota junto com o governo, a exemplo dos governadores candidatáveis José Serra (PSDB-SP) e Aécio Neves (PSDB-MG), já que estes perderam, cada um, em torno de R$ 2 bi com repasses da CPMF que deixarão de ser efetuados aos seus estados. Valeu mais a sordidez do príncipe dos sociólogos, o neo-udenista Fernando Henrique Cardoso, que, junto com o DEM, foi o grande estrategista para barrar a continuidade do tributo. Em texto publicado na revista Época, o cripto-fascista deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), chegou a dizer que caso o imposto fosse renovado “se corria o risco de turbinar a pasta da saúde e diretamente a saúde do governo”. Vejam o nível do cinismo. Não importava ao parlamentar direitista se a população pobre poderia ser melhor atendida por serviços públicos de saúde e sim desestabilizar as políticas sociais.É preciso clareza nesse momento para entender que o embate foge agora às argumentações tecnicistas-econômicas. É preciso que o governo compreenda em qual lado construirá novas trincheiras, se no ninho das hostes adesistas e fisiológicas, ou junto aos setores populares que ainda o apóiam com entusiasmo, conforme aponta a última pesquisa divulgada pelo IBOPE, realizada no mês de novembro passado. Nesta, o governo tem aceitação de 65% da população, um índice que deve não apenas ser comemorado, mas estrategicamente refletido.
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