Malabarismo narrativo para passar recibo


Mais uma vez a Rede Globo disponibilizou sua artilharia de mídia a serviço do recrudescimento do golpe de abril deste ano. Tanto o canal aberto quanto a Globo News se constituíram em panfletos de convocação à patuscada fascista registrada em diversas capitais que, ao fim e ao cabo, ficou aquém do previsto. 
 Onde se esperava multidões, não foi registrado. 
A estratégia de propaganda consistiu em câmeras postadas em torno de 10 a 15 metros de altura para enquadrar aglomerados de pessoas com o fito de dar grande dimensão ao espetáculo circense-fascista.
Assim se procedeu em São Paulo e Curitiba. 
Em outros locais, os registros foram no chão. Enquadramentos estrategicamente dimensionados para captar faixas e bonecos inflados que remetiam aos clichês de patuscadas passadas. "Fora Dilma"; "Prisão para Lula"; "Viva Moro" etc. 
Nenhum registro de desagravo ao ilegítimo e corrupto Temer. Até mesmo porque este não era o intento das hordas fascistóides convocadas por organizações de extrema-direita, a exemplo do Vem pra Rua e MBL. 
No golpe dentro do golpe Temer já é carta descartada. 
A "sinceridade" do apelo sobrou para outra peça terminal do golpe, o presidente do Senado Renan Calheiros, de quem foi pedida a cabeça. 
Agora marcha-se rapidamente para reduzir direitos sociais e sufocar as liberdades. O PSDB deve encontrar o terreno devidamente capinado. 
Neste 2016 os fuzis e as botas deram lugar às togas e ternos dos juízes e promotores, as vedetes das turbas. Eles querem poder irrestrito para barbarizar ao bel prazer. E a Globo apóia. Assim como apoiou o regime militar. 
O jogral da Vênus Platinada com os players do Judiciário teve seus momentos de "ardor patriótico" com o discurso do patético Faustão e a edição do Fantástico. Obra de fazer inveja a Leni Riefenstahl, a cineasta que encantava Adolf Hitler. 
"Manifestações em várias cidades do país em apoio à Operação Lava Jato", disparou o ridículo apresentador sob o olhar sério do padre-pop Fábio de Melo, que canta e escreve para o mesmo público que se encontrava na Avenida Paulista no domingo, 04/12. 
No "Show da Vida" as imagens da propaganda devem ter sido cortadas a dedo por Ali Kamel, o mago. 
Na abertura, a bandeira do Brasil desfraldada e, num rápido enquadramento mas bem direcionado, os segundos dedicados ao cartaz "Prisão para Lula". Logo em seguida, o corte recaiu nas cenas de senhores e senhoras, todos brancos, vestidos com suas camisas da CBF, portando cornetas e adereços verde e amarelo. 
Empacotamento perfeito para a aliança protofascista da casta judiciária com as corporações de mídia. Globo à frente. 
É a continuidade ao desmonte do estado e a imersão do país num modelo neoliberal radical com violenta repressão às vozes dissonantes. 
E o que restar do estado brasileiro é para servir aos interesses dos taciturnos senhores do Poder Judiciário com seus salários e privilégios nababescos. 
Não é de se estranhar que na quarta passada a manifestação contra a PEC 55, em Brasília, foi tratada como "baderna promovida por desordeiros". E a deste domingo narrada como um movimento "pacífico e patriótico". 
A dose letal de narcótico midiático vai se avolumando num gradiente imperceptível para muitos. Mas os que têm antenas para captar já observam as cenas que hão de ser projetadas adiante. 
E não serão nada sublimes, bom avisar.

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