Estudantada da USP enfrenta José Serra


Desde o dia 03 de maio que estudantes e funcionários da Universidade de São Paulo (USP) ocupam a reitoria da instituição. O ato é em protesto contra a medida do governador José Serra (PSDB) de centralizar o orçamento das universidades estaduais paulistas. Os manifestantes também apresentaram uma pauta de reivindicações que tem como tema central a questão da moradia dos estudantes provenientes de outras cidades e aqueles sem condições financeiras de sustento. Na verdade, o governador tucano está de olho num total de R$ 5,5 bilhões correspondentes à arrecadação de 9,57% do ICMS no estado, recursos até então canalizados para as universidades públicas estaduais. O que Serra quer é gerir diretamente esses recursos mediante a Secretaria de Ensino Superior, criada com essa finalidade. Essas medidas do tucanato paulista são de curto e médio prazo. Em longo prazo, esperem, eles buscarão iniciar a privatização da USP, Unicamp e Unesp.
Os estudantes da USP estão resistindo a uma perversa lógica neoliberal cujo alvo, no momento, é a desconstrução da autonomia universitária, direito assegurado pela Constituição do país desde 1988. Na prática, pela vontade do Serra, até a aquisição de um computador terá que passar pela sua mesa. No rastro, segue o desmonte das instituições públicas mediante o corte sistemático de verbas e o sucateamento. Trata-se de uma estratégia amplamente difundida à época do governo de Fernando Henrique Cardoso, responsável pelo maior entulhamento que as universidades públicas do Brasil já conheceram. Na contrapartida, o fortalecimento das instituições privadas para a futura aquisição dessas universidades.
Para Serra, os reitores devem estar suscetíveis às demandas do Executivo paulista cuja lógica, na gestão dele, foi responsável pelo buraco do metrô em São Paulo, quando o Estado realizou um contrato draconiano com empreiteiras onde o setor privado geria o interesse público sem “inconvenientes”. Deu no que deu.
Por outro lado, a retomada das lutas universitárias aponta como um alento ante a parasitária que se tornou a vida estudantil no país. A ocupação da Reitoria da USP se torna um novo marco. Junto com os funcionários, a garotada tem mostrado maturidade para enfrentar uma situação que se apresenta não apenas pela violência institucional do ato de Serra, mas, sobretudo, contra a privatização crescente do ensino superior, cujos resultados são a precarização da educação e dos salários dos docentes.
A estudantada se levanta contra a construção de modelos de ensino totalmente voltados ao mercado e distantes da realidade nacional. São currículos “compactos”, com precária formação tecnicista que visa formar “robôs” para servirem de “garçons” no supermercado neoliberal. Ninguém é instigado a pensar, refletir e criticar, apenas a obedecer e operar as máquinas de uma suposta pós-modernidade.
E há poesia de sobra no ato da estudantada. A bandeira erguida à frente da Reitoria da USP, com o escrito “Ocupada”, remete às viçosas manifestações ocorridas na França em 1968, quando, na Universidade de Nanterre, em Paris, os estudantes franceses iniciaram uma das mais empolgantes lutas universitárias do século XX. No campus da Nanterre bandeiras foram hasteadas com os dizeres: "Seja realista, exija o impossível", "É proibido proibir" e “A imaginação no poder”. E nos muros do campus era exibido o filme Terra em Transe, do cineasta brasileiro Glauber Rocha. Eles instituíram no calendário o mítico Maio de 68.
Uma coisa é certa, sem resistência o processo demoníaco de sucatização do ensino público do país não cessará. E a moçada da USP tem dado conta direitinho do recado a ponto de colocar a reitora da instituição, Suely Vilela, na condição defensiva. Os estudantes sabem que, caso não resistam, eles continuarão sendo vítimas, assim como a sociedade, da perversa orientação neoliberal que visa a comercialização progressiva e radical da educação. Veja aqui um dos momentos mais lúdicos da ocupação da reitoria da USP quando a estudantada canta a música Meu amigo Pedro, de Raul Seixas.

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