Mentiras, mil vezes mentiras!
Um presente de grego para os trabalhadores. No decorrer da semana o Jornal Nacional apresentou uma série de reportagens sobre o mercado de trabalho no Brasil. A pauta foi o trabalho informal e o desemprego. Novamente, o engodo escancara na Vênus Platinada. Resgatando o velho Karl Marx, é fácil entender porque “as idéias não explicam a realidade, já que é a própria realidade que explica a existência das idéias”. Se a Rede Globo fugisse um pouco do cinismo e tivesse mais sinceridade com o seu discurso direto e não o subliminar, apresentaria as matérias como a preocupação do capital em não perder privilégio, continuar lucrando e manter o trabalho refém do seu humor e desígnios. Com a “autoridade” que lhe foi designada, o editor do programa e apresentador William Bonner, acompanhado pela mulher e também apresentadora Fátima Bernardes, impuseram um ar de tanta “seriedade” às reportagens que até parecia verdade. “Especialistas” foram ouvidos sobre o “mundo” do trabalho, nenhum deles ligado a sindicatos ou entidades que pudessem apresentar o lado do trabalhador, apenas “estudiosos” coadunados com as teses do neoliberalismo.As matérias da Rede Globo, verdadeiros discursos de cristalização do ideário neoliberal, trouxeram à tona a periferia do problema, apenas. Numa sociedade que 0,003% da população concentram 40% da riqueza nacional fica fácil entender o drama do desemprego e da informalidade. Dados, aliás, que não foram e nem nunca serão apresentadas na televisão dos Marinhos. O Brasil é o segundo país mais excludente do mundo! A informalidade e o desemprego são reflexos da crise que o sistema neoliberal lançou o país desde o governo de FHC. E, ao que parece, os quatro anos do governo de Lula não foram capazes de estancar a sangria dos direitos dos trabalhadores. Ao contrário, o governo do ex-sindicalista mantém-se na inércia ante o avanço da sanha de lucros do patronato, ainda que Lula tenha vetado a famigerada e perigosa emenda três.Todavia, o veto do presidente poderá ser derrubado se a correlação de forças no Congresso Nacional não conseguir conter o lobby patronal, o que não é difícil. Artigo do bancário Adilson Araújo, publicado no site do Sindicato dos Bancários da Bahia, informa: “Os riscos de derrubada ao veto são imensos. Caso a emenda seja aprovada, direitos elementares, como Fundo de Garantia, 13º salário, férias, licença maternidade, entre outros, ficam seriamente ameaçados de serem suprimidos. Sem contar que a fúria do patronato é tamanha, que se pretende inclusive acabar com a CTPS, adotando e prerrogativa do contrato na forma de pessoa jurídica desprovido da tão suada ‘cesta básica de diretos’, conquistada na Constituição de 1988”. É bom lembrar que por muito menos do que isso os franceses paralisaram seu país para barrar a aprovação da Lei do Primeiro Emprego, perseguida pela direita francesa há décadas.No setor do ensino superior privado o desgaste das garantias trabalhistas vem a galope. A titulação dos professores não é mais respeitada e, em algumas dessas instituições, os que adentram hoje nesse mercado de trabalho estão percebendo salários 50% menores do que os que já se encontram nele. Demissões em massa à vista, esperem. Além disso, a implantação de subterfúgios pedagógicos, a exemplo de educação a distância, entre outras embromações pseudodidáticas, reduzirá ainda mais os salários dos docentes.É exatamente isso que a “série de reportagens” do Jornal Nacional disse para que veio: reforçar o lobby do patronato e realizar sua tarefa de classe. É o próprio “deserto do real”, como afirma o filósofo e psicanalista Slavoj Zizek. O discurso obsceno da Rede Globo apresenta-se como salvacionista dos problemas ao tempo que destila suavemente seu recado no sentido de fortalecer a idéia da desregulação do trabalho. Por que as “matérias” não enfatizaram que o setor bancário auferiu, no quarto trimestre do ano passado, os maiores lucros da sua história? O Bradesco, por exemplo, atingiu a cifra de 6,6 bilhões. Foi o que mais lucrou. Esse mesmo setor também foi responsável pelas maiores dispensas de trabalhadores nos últimos 10 anos, e a maior parte deles caiu na informalidade.Em nenhum momento se falou em uma reforma tributária que aumente a carga do fisco sobre os grandes lucros e fortunas e desonere o trabalhador; em nenhum momento se falou efetivamente na desconcentração da riqueza nesse país excludente. De resto, o salvacionismo da Rede Globo apega-se às teses da punição como redentoras dos problemas nacionais. Na quinta-feira passada o jornalismo da Globo comemorou a aprovação da redução da maioridade penal na Comissão de Constituição, Justiça e Redação do Senado. O Jornal da Noite do mesmo dia, ancorado pelo jornalista William Waack, foi aberto com a seguinte chamada: “A tragédia do garoto João Hélio começa a surtir efeito: Comissão aprova redução da maioridade penal”. Não negando a tragédia que envolveu o garoto, mas entendendo-a como extensão da tragédia nacional, é perceptível que a rede de televisão dos Marinhos consegue reduzir os problemas sociais do país à condição de fatos isolados. Enquanto isso alimenta o imaginário da punição da exclusão cavalgando no cinismo de que as saídas para o Brasil resumem-se à edificação de presídios, na desregulamentação das leis trabalhistas e no aumento dos lucros das grandes corporações e empreendimentos.
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