Eternamente agradecido


Blogs não devem ser ferramentas de mídia para falar do próprio autor, penso. Aqui, abro uma exceção. Na última sexta-feira, dia 18/04, fui homenageado pelos formandos de Jornalismo das Faculdades Jorge Amado. O ato muito me alegrou, não simplesmente pela homenagem em si, mas, sobretudo, pelo reconhecimento daqueles a quem dedicamos nossas melhores energias ao longo do convívio acadêmico. Sou-lhes grato e gostaria de dividir essa homenagem com vários colegas, pessoas que também atuaram com dedicação para que este aguerrido grupo pudesse atingir esse intento. São eles os colegas: Walter Takemoto, Tatiana Loureiro, Hudson Marambaia, Eliezer César, Marcos Dias e Maurício Matos. Brilhantes profissionais que tiveram suas trajetórias ceifadas nas FJA por conta de uma postura autoritária da instituição. Nesse mesmo diapasão, aqui lembro o fato de ter sido chamado de louco e doente pela diretora geral, feito presenciado por dezenas de alunos. Não adentrarei nesta seara, já que quem melhor avaliará o inconseqüente ato é a Justiça, já devidamente acionada. Retomando, se ontem estive na presumível condição daquele que poderia saber algo a mais para transmitir, devo lhes confessar que muito mais aprendi do que ensinei. Do pensador Michel Foucault extrai-se um dos conceitos mais bem aplicados à escola: para ele, o sistema educacional ocidental é uma herança de duas instituições, o sistema manicomial e o sistema penitencial. E durante quatro anos de convívio nos corredores, sendo um diretamente em sala de aula, vocês, eu, nós todos, pudemos experimentar a doçura dos momentos mais suaves às agruras das cobranças mútuas. Missão difícil: ajudar a formar jornalistas. Fala-se muito da mídia, ou melhor, da idade mídia, e sobre nós, professores de cursos de Jornalismo, recai a grande responsabilidade de filtrar aos nossos alunos os pormenores - seja do ponto de vista prático quanto teórico - de uma atividade essencial à sociedade. Jornalismo é um serviço de utilidade pública, mas que historicamente, no Brasil e na maioria dos países, se constituiu numa rentável máquina de construção de poderes. Procurei debater todas essas questões e jamais me refutei à análise crítica acerca desses temas. E é assim que tem que ser. Fica a saudade de uma fase, inaugura-se o convívio em outra, a profissional. Agora somos todos colegas, sem nunca deixarmos de ser aprendizes, sempre. Um beijo no coração de vocês desse que os terá, acima de tudo, como amigos. E, novamente, eternamente grato!

Comentários

Anônimo disse…
Nós que agradecemos por tê-lo como professor de sempre. Como diz um Drummond: "Cansei de ser moderno, agora serei eterno".
Anônimo disse…
Zeca,
não tive a oportunidade de lhe homenagear, porque não optei por fazer formatura. Mas, de certo, é mais que merecida a homenagem prestada a você, bem como é justíssimo você compartilhá-la com todas as pessoas citadas em seu comentário.
Nós vivenciamos uma época de sonho na Jorge Amado, esplendidamente conduzida por Walter Takemoto e Tatiana Loureiro. Época em que a educação e as experiências pedagógicas em prol do aprendizado do aluno (Entrelinhas, RadioJA, Núcleo de Mídia e Cidadania, Assimp, e tantas outras) estavam acima de qualquer interesse mercadológico-imediatista. Foi por esta faculdade que me apaixonei e decidi ingressar como estudante. A condução do curso, passando pela excelente seleção de professores e professoras que tínhamos me fizeram abdicar de horas de lazer, descanso e, principalmente, de convivência com a família. Até um determinado momento, sentia que a instituição tinha interesse e tentava ser uma faculdade diferenciada das demais da cidade. E ela, de fato, era!
Pena que, com o tempo, fomos perdendo tudo. Perdemos Walter, Tatiana, os núcleos e, por fim, os excelentes professores que tínhamos, restando pouquíssimas exceções, que, por sua excelência, com certeza também serão, como você bem disse, ceifados da FJA. Fico pensando aqui com meus botões no que pensa a nova direção da FJA. Acha que vai viver de imagem a vida toda? Acha que propaganda e marketing bastam? Penso que não. Não há curso que dure sem conteúdo. Quanta decepção!
Ficam comigo os bons momentos que tive durante o curso e o privilégio de ter tido mestres tão únicos como você, Zeca. Força e não desista nunca!
Murilo Gitel disse…
Professor:

Estamos órfãos na faculdade, desde que os mestres citados por ti neste post foram arbitrariamente desligados das Faculdades Jorge Amado, a exemplo do que aconteceu contigo.

Ao menos, fica o reconhecimento de nós alunos por conta de todo o conhecimento que vocês nos proporcionaram na academia e permanecem nos acrescentando de outras formas.
Unknown disse…
Zeca,
que bom que mais uma vez vc foi homenageado! Você é um excelente professor...
Ah! Por conta de uma disciplina, tive que criar um outro blog, o qual dessa vez prometo levar a diante...
beijos
www.bocadeurna2008.blogspot.com
Zeca,

Você mereceu a homenagem. Nós que devemos agradecer. Outra coisa... Não existe ex-mestre, você escolheu uma profissão que é pra vida toda.

Soube que você não pôde ler seu texto na solenidade. Espero que tenha gostado do texto que me permitiram ler. Ali vai uma pontinha do que aprendemos com você.

Obrigado, mestre Zeca!
Querido Zeca. Não tinha como não homenageá-lo! Um abraço de alma e valeu pelos ensinamentos.

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