Editorial cretino
Certo editorialista de um jornal soteropolitano afirmou que a crise econômica mundial foi um fato “inesperado”. Sem comentários. A ignorância do problema por parte do nobre escriba não me surpreende, como de resto de boa parte do sistema midiocrático brasileiro. É aquela história, o dono da bola não pode ficar fora da pelada, mesmo que seja um jogador sofrível. E este é o caso. Quem se surpreende com a deblaquê econômica mundial denota, sobretudo, pouca leitura do cenário internacional dos últimos anos. Talvez empolgados, como estavam, com a tal da globalização financeira e as opiniões do historiador nipo-americano Francis Fukuyama, aquele que disse que a história havia encerrado com a queda do Muro de Berlim. Ao pensarem que o consenso de Washington seria a pedra filosofal do futuro da humanidade, estes escribas se lambuzaram com a idéia dos paraísos fabricados pelo neoliberalismo. Fim dos estados nacionais; desregulação dos sistemas produtivos, da saúde, da mídia e o fim das legislações trabalhistas. Agora o mercado seria o gestor, e senhor de tudo. E aí daqueles que fossem contra, logo taxados de dinossauros, jurássicos e afins. Invertiam valores e moldavam de “novo” velhos receituários de um capitalismo selvagem e depedrador. Empreenderam nos meios de comunicação a “tese” da privatização absoluta . Diuturnamente, os “comentaristas” exigiam que os governos “fizessem o dever de casa”. A mesma ladainha de sempre: “cortar gastos”; “autonomia do banco central”; “derrubar impostos”; “flexibilizar a legislação trabalhista”; “reformar a previdência”; “vender estatais”. Em boa medida, este receituário foi seguido à risca em diversas partes do planeta. Resultado: quebraram o mundo e estão levando milhões de pessoas à rua da amargura. E a tropa de choque dessa verborréia era constituída, e ainda se constitui, num leque de arrogância que ia de comentaristas econômicos – Miriam Leitão e cia – passando por professores universitários medíocres e palestrantes de auto-ajuda empresarial – a exemplo de picaretas do tipo “vendedor Pit Bull” -, chegando à tecnocracia da máquina pública e seus conselheiros com status de “consultores”. Dia desses assisti a palestra de um deles, que iniciou a exposição com o mesmo clichê: “vivemos num mundo em pleno processo de mudança”. Risível. Desde quando o mundo tem deixado de mudar? Papo pra encantar platéias desprevenidas ou fazer boi dormir. E o pior, havia cobrado R$ 200 pela palestra – a quem queira saber, não paguei, fui convidado. Foi todo esse caldo que ferveu a sopa do neoliberalismo nos últimos anos. O argumento raso aliado à total falta de conteúdo para a análise histórica e econômica. Talvez agora entendam que a queda de Wall Street, assim como a do Muro de Berlim, é história, história que não se acaba e que se explica pelo dialético movimento das forças sociais e políticas que permeiam a humanidade.
Comentários
Economistas ou jornalistas da editoria de economia que nunca leram "O Capital". Marx, ainda antes de 1900, já tinha previsto a crise. Pegando mais leve, o simples fato de um império fazer das guerras uma forma de obter o capital, ou seja, lucros que gerem mais lucros, aponta claramente uma crise. Crise que por sinal foi avisada todos os dias pela mesma mídia defensora da "globalização", a farsa do século.
Também, o que poderíamos esperar de jornalistas que nunca pegaram num livro de história.
Zeca, não pare de escrever. Temos que combater a falta de informação imposta pela mídia corporativa.
Abraço.