Artigo de Marcos Coimbra: A corrupção e a opinião pública
É sempre
necessário conhecer o que pensam os cidadãos sobre os temas em debate no meio
político. A opinião pública pode não ser a dimensão fundamental na democracia,
mas é uma das mais importantes.
Suas
preocupações e prioridades coincidem, muitas vezes, com as dos políticos e as
da imprensa. Em outras, no entanto, não são as mesmas.
A corrupção,
por exemplo. Deve ter sido a palavra mais usada no Congresso e na mídia nos
últimos meses.
A temporada
começou com as denúncias contra Palocci e não se encerrou. Pelo contrário.
Outros ministros caíram, dezenas de funcionários foram demitidos.
Os partidos
de oposição, como é natural, se aproveitaram desses casos para focar o
discurso. Seria ilógico que desperdiçassem a oportunidade, apesar do telhado de
vidro e de saberem, no íntimo, que enfrentariam dificuldades parecidas às de
Dilma, se tivessem vencido a eleição.
A mídia
oposicionista avaliou que esse era um flanco a explorar no ataque a seu inimigo
figadal, o “lulopetismo”. Deu-lhe, portanto, farta cobertura (mas, como sempre,
sem dedicar uma linha a quem corrompe).
Ao longo do
mês, um terceiro elemento (não separado dos anteriores) entrou em cena. A
partir do Sete de Setembro, foram tentadas algumas manifestações de protesto
civil contra a corrupção, das quais a maior ocorreu em Brasília. Todas foram
modestas.
A mais
recente, que aconteceu esta semana no Rio de Janeiro, chegou a ser patética,
apesar do espaço que sua preparação recebeu nos veículos do maior grupo de
comunicação da cidade (e do país) e da simpatia com que foi tratada. Só faltou
convocar a população, explicitamente, a participar do evento.
Apenas 2,5
mil pessoas apareceram, entre manifestantes — a maioria motivada por outras
questões — e a turma que costuma circular no centro das grandes cidades. Alguns
empunhavam as velhas vassouras do pior udenismo.
Nada de
semelhante às manifestações de massa em outros países. Do mundo árabe à Europa,
passando pelo Chile e chegando aos Estados Unidos, grandes e entusiasmados
protestos, especialmente de jovens, tornaram-se parte decisiva do processo
político.
Uma das
razões que explicam a baixa adesão popular aos protestos anticorrupção no
Brasil é o lugar que o tema possui na hierarquia dos problemas nacionais. Ele
está longe de ser prioritário para a vasta maioria da população.
Em pesquisa
realizada há dois meses pela Vox Populi, foi pedido aos entrevistados que
dissessem quais os três principais problemas do país (em pergunta espontânea,
i.e. sem exibir lista). Como mais grave, a corrupção foi citada por 5% dos
ouvidos e ficou em sexto lugar. Agregando as repostas de quem a colocou como um
dos três mais relevantes, permaneceu na mesma posição.
Esses 5%
podem ser comparados aos 38% que escolheram a saúde, aos 20% que citaram a
segurança, aos 12% que responderam educação, aos 11% que mencionaram o
desemprego e aos 5% que falaram em pobreza ou fome. Ou seja, não é uma
preocupação central para muita gente.
Não se está
aqui dizendo que seja pouco importante. As pessoas se preocupam com a corrupção
e acham que é indispensável coibi-la.
Mas não
consideram que o problema tenha se agravado ultimamente. Aliás, todas as
pesquisas mostram que, quando se pedem comparações entre os governos do PT e do
PSDB, a maioria acha que era mais sério antes da vitória de Lula.
Perguntadas
sobre qual partido “tem políticos mais desonestos “, as pessoas tendem a dizer
“todos” (30%) ou (o que é parecido) não saber qual (36%). PT, PMDB e PSDB
empatam, cada um com cerca de 8%, entre os que mencionam algum.
A corrupção
não é, portanto, um tema que esteja pegando fogo na opinião pública. E não há,
hoje, “culpados” claros por ela (como houve no passado, quando chegou a levar
milhões de caras pintadas às ruas).
O mais
importante, contudo, é que a grande maioria da população aprova o governo e
confia na sua atuação. As pessoas acreditam que a corrupção é um dos muitos
problemas que o país têm e que estão sendo enfrentados por Dilma.
É por que a
opinião pública pensa assim que a “indignação” mobiliza tão pouca gente. Apesar
dos esforços em contrário de alguns (poderosos).
* Marcos
Coimbra
é sociólogo e presidente do Vox Populi.
Comentários