A nota do PSDB de apoio ao golpe no Paraguai. Questão de instinto.
O PSDB divulgou nota de apoio ao golpe de estado no
Paraguai. Não causa surpresa a postura do partido de Sérgio Guerra, que
classificou o episódio como “substituição da Presidência”. Patético, o texto
afirma “que a despeito da velocidade do processo, não houve rompimento das leis no país”. Tudo dito como se um rito que durou apenas duas horas, sem a mínima
chance de defesa ao presidente Lugo, não representasse um ato de força. À
postura dos tucanos recorro a um pensamento de Slavoj Zizek: “(...) A era contemporânea
volta e meia se proclama pós-ideológica, mas essa negação da ideologia só
representa a prova suprema de que, mais do que nunca, estamos imbuídos na
ideologia (...)”. Perfeito. Despolitiza-se o fato. Seria uma simples
“substituição” no poder. Um trâmite parlamentar, apenas. No mesmo diapasão,
condena a postura do governo brasileiro ancorando-se no discurso de
“autodeterminação dos povos”. Tergiversa o necessário para que a alegoria da
retórica lhe caia como máscara ideal à inversão dos valores. Por “autodeterminação”
leia-se um golpe cujo constructo foi iniciado ainda em 2008, em Washington.
O estratagema exigia uma faceta “democrática”. E entre seus partícipes, além
dos parlamentares, estava o general Lino Oviedo, representante do agronegócio do
Brasil no Paraguai, conforme denunciou o site WikiLeaks. Pontas de um único
novelo que se encontram. Zizek, ao comentar a estratégia de “humanização”
ideológica das Forças de Defesa de Israel na mídia israelense, lembra os
enquadramentos suavizados das destruições de casas de palestinos. Soldados
israelenses ajudavam as famílias a esvaziar os imóveis antes dos tanques
triturarem tudo. É a boia de argumentação do PSDB. Legitimando o golpe no
Paraguai, o partido de Serra acena precedentes a quaisquer posturas de
itinerário semelhante, como se tentou em 2005 à época do escândalo carimbado
com a alcunha de mensalão. Suaviza-se a violência com o auxílio luxuoso de
instituições como o Judiciário e o Legislativo. E clamam às famílias para
marchar com Deus. É preparo de terreno futuro com o retrovisor do passado.
Sonho recôndito, camuflado, à espreita para qualquer encaixe. Desde a UDN é
assim. Em 1954 e 1964 não foi diferente. Por que seria agora? Questão de
instinto.
Comentários