Espaços de indignação. E de alguma esperança
O que esperar das redes sociais para as transformações
políticas? Para Manuel Castells, a premissa é de que a mudança do ambiente
comunicacional afeta diretamente as normas de construção de significado e,
portanto, a produção de relação de poder. O sociólogo espanhol avalia que os
levantes populares da Primavera Árabe, a Revolução das Panelas na Islândia, o
Occupy Wall Street, a rebelião dos Indignados da Espanha e as chamadas Jornadas
de Junho no Brasil decorreram, entre outros fatores, da emergência do que
entende como “autocomunicação“. Guardando diferenças econômicas, políticas e
sociais, Castells observa que estes levantes tiveram como característica comum duas
situações: a existência concomitante de redes mediadas por computador e dispositivos móveis e
ocupação de espaços públicos, fenômenos os quais classifica de “híbridos”. Em Redes de Indignação e Esperança - Movimentos
sociais na era da internet (faça o download aqui), o pesquisador analisa estas mobilizações
atentando ao fato de que fagulhas de insatisfações, em alguns aspectos, ganham
potência a partir das redes sociais. Para ele, “sensação de empoderamento
coletivo”. Tem autoridade para sustentar. Desde os anos 90 que o acadêmico já punha a lupa no surgimento da
Sociedade em Rede, analisando suas interações, a contracultura, os movimentos
urbanos e a questão das identidades. Neste trabalho, Castells observa que novas
vias de mudança social estão sendo catapultadas pelo que entende como
“capacidade autônoma de comunicar-se e organizar-se”, estratégias, segundo ele,
que têm sido descobertas por uma nova geração de ativistas “para além do
alcance dos métodos usuais de controle empresarial e político”. No caso da
Espanha, um levante perpetrado a partir de pessoas que se interligaram com
suportes de comunicação virtual e também offline, perfazendo rizomas de
interação de grupos. As mobilizações na Tunísia e Islândia são dois marcos neste
novo cenário. A despeito de observar traços de “expansão do não-capitalismo” no
conjunto destas situações, com a emergência de culturas econômicas
alternativas, o sociólogo acredita que o sistema capitalista não entrará em
colapso por si mesmo. Os movimentos sociais em rede continuarão suas
experiências de luta e debate, mas tendem a se dissolver “nas suas atuais
condições de existência (...)”. Não é um balde de água fria nos entusiastas do
ciberativismo. Castells é pragmático e não abdica da sociologia política para
dar lugar ao sonhador hacker. Para ele, “(...) a única questão relevante para
se avaliar o significado de um movimento social é a produtividade histórica e
social de sua prática e seu efeito sobre os participantes como pessoas e sobre
a sociedade que ele tentou transformar”. Traduzindo: ninguém pode pressupor,
ainda e de fato, os efeitos que as novas tecnologias de comunicação podem
operar nas sociedades no que confere às mudanças políticas de curto e médio
prazos.
Redes de Indignação e
Esperança
Zahar Editora, 2013
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