Quando o público define o que se propaga. Ou o nó górdio da mídia contemporânea
Rever
os conceitos de propagabilidade numa economia da mídia forjada pela intensa
participação dos usuários como condutores de ideias e atuantes na remodelagem dos
produtos veiculados. Mais do que o valor agregado a partir de uma escala
puramente econômica, a Internet tem proporcionado aos membros da audiência,
também produtores, novas percepções do sentido de lucro.
Na
economia da dádiva, ou do dom, mais vale a opinião e a catapulta midiática nas
mãos dos usuários do que 1000 banners “flashando” a linha do tempo de alguém.
Doravante, o jornalismo, a propaganda e a publicidade, da forma que o
capitalismo desenhou até o momento, em breve serão peças arqueológicas. Diria
Marx: “Tudo que é sólido se desmancha no ar”.
O
vaticínio é dos estadunidenses e estudiosos da mídia Henry Jenkins, Joshua
Green e Sam Ford, três pesquisadores ligados ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts
(MIT).
Em Cultura
da Conexão, lançado no Brasil pela Editora Aleph, o compartilhamento
nas redes sociais não tem apenas papel fundamental à visibilidade de um novo
produto, tangível ou intangível, mas, sobretudo, à manutenção e sobrevivência
deste produto.
Os
modelos de veiculação tradicionais, conforme os autores, só sobrevivem, da
mesma forma, em compasso cadenciado com as inquietações dos internautas. São
eles que têm definido a biruta das tendências.
A cantora inglesa Susan Boyle é um bom exemplo.
As performances da artista na rede renderam 77 milhões de visualizações no Youtube,
enquanto o final da temporada do American
Idol atraiu 32 milhões de telespectadores nos EUA. O programa foi veiculado
na TV aberta.
Jenkins,
Green e Ford partem da desconstrução do conceito de “virial”. Optam pelo
entendimento de “propagabilidade”. Há diferenças. Neste quesito, o público tem
papel ativo na “propagação” e não se limita a ser portador da imagem ou texto sobre
o que seja. Mais: estes mesmos produtos são factíveis de remodelagens,
remixagens e outros recursos midiáticos. Transmutam-se. Ganham resignificações.
Nesta
nova linha de montagem, os usuários das redes sociais são “commodities”. Isso
mesmo, mercadoria. Os autores coadunam com outros pesquisadores da mídia, a
exemplo do ciberativista Eli Pariser (2012).
“O
público cria, conscientemente ou não, valor de economia por interesses
comerciais, por meio de geração de conteúdo para atrair a atenção e transformar
essa atenção em commodity, e através das informações valiosas que eles lançam,
as quais podem ser vendidas pelo lance mais alto”, sustentam os autores.
O
trabalho dos pesquisadores não fecha questão do que poderá vir a se concretizar
na nova economia política da mídia. No entanto, não é difícil constatar que os
interesses sociais que movem os públicos é fator determinante nos processos de
propagação de quaisquer produtos, com o ônus ou o bônus que estes movimentos
possam representar.
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