Da Comunicação Social à Midialogia
Há alguns dias participei de debate numa turma de formandos do curso de Psicologia da Faculdade Social da Bahia. O convite partiu da professora Monica Coutinho, a quem sou grato pela oportunidade. O tema foi "O discurso do ódio na mídia". Para mim, um momento bastante produtivo e de aprendizado.
Mas um fato me chamou atenção: o interesse daquele(a)s futuro(a)s psicólogo(a)s acerca do comportamento da mídia, inclusas as suas diversas modalidades de narrativas.
O evento só reforçou minha tese de que, do ponto de vista da formação, urge atualizar os currículos dos cursos de Comunicação.
O advento da Internet está redesenhando o modelo da economia política da mídia, sobretudo nos seus planos de negócios. É hora de se repensar as grades curriculares ofertadas aos futuros comunicólogos.
Áreas de conhecimento como a Psicologia Social, Etnografia digital - Netnografia -, Sociologia Digital e o incremento de conteúdos e ferramentas relativos à atuação nas redes sociais, hoje devem compor considerável espaço nestas grades.
Vou além. E me perdoem se cometo algum tipo de heresia acadêmica. Proponho que a formação seja em Midialogia, à semelhança do que já ocorre há alguns anos na Unicamp.
Habilitações como Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas, Produção Cultural, Rádio e TV, Marketing e até mesmo Cinema devem advir desta formação básica.
A Midialogia é a possibilidade de encampar sólida base metodológica-científica que possibilite o(a) discente ter acesso a áreas de conhecimento que abarquem robusta formação teórico-humanista e que complemente à frente as especializações que hoje conhecemos como habilitações.
Jornalistas, publicitários, relações públicas, radialistas, profissionais de marketing e cineastas certamente que se constituirão em players muito mais capacitados e adaptados às novas realidades demandadas por um mercado que exige smarths comunicadores nas suas diversas expertises.
Um profissional com bom texto (premissa si ne qua non) também terá que ter razoável domínio sobre análises de métricas e costumizações de edições de audiovisuais para redes sociais.
Até mesmo porque será ele o responsável pela captação e edição dos conteúdos imagéticos - vídeos e fotos. Assim como responderá pelo primazia do texto, seja escrito ou falado.
Internet é convergência.
Ou seja, seu olhar sobre o objeto a ser narrado deverá resultar num combo discursivo que tenha capacidade de reter atenção diante de uma oferta de conteúdos que bombardeia por minuto com milhões de vídeos, fotos e textos.
A economia da atenção foi alterada significativamente. É disputa pesada. Portanto, o saque do profissional deverá se estender da leitura do comportamento dos usuários, que apenas não consomem informações, mas muito mais produzem, às estratégias narrativas que consigam otimizar as retenções de atenção num ambiente no qual a time line é a sua maior inimiga.
Ambientes inescapáveis onde a concorrência já se dá com conteúdos de altíssima qualidade a memes dos mais idiossincráticos possíveis, porém passíveis de, por vezes, arregimentar grandes séquitos de internautas.
As mortes do jornalismo diário impresso e do modelo tradicional de TV deixam espaços a serem ocupados por players da mídia que tiverem capacidade de entender este novo consumidor/produtor de informação.
Por isso, corram. E tentem trocar os pneus com os carros em movimento. Não há mais tempo para parar. De modo contrário, serão tragados pelos fatos.
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