A boa palavra de Sócrates Santana
Vá à Porta do Inferno
Sócrates Santana*
A exposição de Auguste Rodin na Bahia traz a tona um campo de disputas, de conflitos, de descontinuidades, de multiplicidade de discursos sobre a política e as artes visuais maiores que as frases anatômicas contidas nas esculturas do artista francês. Uma disputa que não está restrita aos méritos de quem preparou o terreno para a vinda inédita de 62 peças a capital baiana, mas, as denúncias de um relatório composto por 200 páginas sobre a Bahiatursa e obscuras relações entre os governos carlistas, agências de publicidade e organizações não-governamentais formadas por servidores públicos.
Não é difícil ouvir nas rádios e na internet, gracejos de parlamentares e lideranças partidárias sobre a co-autoria desta exposição, assim como, o reforço de comunicadores “sem memória” desta tese. Ocorre que os conflitos se dão no campo simbólico, mas, pautado por uma clara tática de jogar para debaixo do tapete um passado nefasto em torno de uma agenda positiva construída pela atual gestão estadual. As atuais secretarias de cultura e turismo, claramente, não tocam no assunto por receio deste enredo sujo resvalar uma gota de sua imundice no cenário do agora. No retrovisor do governador Jaques Wagner tem um bocado de carroças tentando pegar carona nos avanços da política cultural deste governo.
Talvez, se a estátua “O Pensador” de Rodin, pudesse e soubesse o teor do conteúdo do relatório do Tribunal de Contas do Estado, entre 2003 e abril de 2005, que apontava movimentações de R$ 101 milhões por meio de uma conta bancária não registrada no sistema de controle do erário baiano, certamente, iria tirar a mão do queixo e sair correndo, como outra obra do artista, “Homem que anda”. Leia mais: http://www.emilianojose.com.br/cartacapital_366.htm
Como os franceses estão no meio desta roda baiana, um alerta do filósofo Michel Foucault responde bem a um comentário despolitizado de um antropólogo meia boca que fala aos sete cantos de Salvador por meio de uma rádio local. Foucault vem bem a calhar. "É preciso admitir um jogo complexo e instável em que o discurso pode ser, ao mesmo tempo, instrumento e efeito de poder, e também obstáculo, escora, ponto de resistência e ponto de partida de uma estratégia oposta. O discurso veicula e produz poder, reforça-o mas também o mina, expõe, debilita e permite barrá-lo". Ou seja: não há um mundo dividido entre dois discursos, admitido ou excluído, dominante ou dominado. O que existe é um oportunismo deslavado de quadrilhas que se instalaram na Bahia por décadas.
Mas, é cabal apontar o quanto fez mal aos baianos e a imagem da Bahia as maracutaias orquestradas pelos caciques de outrora. Dos R$ 101 milhões, R$ 48,1 milhões foram depositados nas contas de uma agência de publicidade, muita ligada a um famigerado clã baiano. O duto percorria um trajeto nebuloso, que incluía governo e ONG pouco ortodoxa. Apesar da atual gestão não possuir qualquer vinculo com as operações anteriores, qualquer pessoa sensata deduziria que se a lama do passado viesse à cena neste cenário belíssimo proporcionado pelo esforço do governo Wagner, o lodo deles poderia encobrir a brilhante obra de Auguste Rodin em exposição na Bahia. Por fim, fica uma sugestão aos maledicentes línguas do carlismo. Calem as bocas e vão bater na “Porta do Inferno”.
--
Sócrates Santana
jornalista
Sócrates Santana*
A exposição de Auguste Rodin na Bahia traz a tona um campo de disputas, de conflitos, de descontinuidades, de multiplicidade de discursos sobre a política e as artes visuais maiores que as frases anatômicas contidas nas esculturas do artista francês. Uma disputa que não está restrita aos méritos de quem preparou o terreno para a vinda inédita de 62 peças a capital baiana, mas, as denúncias de um relatório composto por 200 páginas sobre a Bahiatursa e obscuras relações entre os governos carlistas, agências de publicidade e organizações não-governamentais formadas por servidores públicos.
Não é difícil ouvir nas rádios e na internet, gracejos de parlamentares e lideranças partidárias sobre a co-autoria desta exposição, assim como, o reforço de comunicadores “sem memória” desta tese. Ocorre que os conflitos se dão no campo simbólico, mas, pautado por uma clara tática de jogar para debaixo do tapete um passado nefasto em torno de uma agenda positiva construída pela atual gestão estadual. As atuais secretarias de cultura e turismo, claramente, não tocam no assunto por receio deste enredo sujo resvalar uma gota de sua imundice no cenário do agora. No retrovisor do governador Jaques Wagner tem um bocado de carroças tentando pegar carona nos avanços da política cultural deste governo.
Talvez, se a estátua “O Pensador” de Rodin, pudesse e soubesse o teor do conteúdo do relatório do Tribunal de Contas do Estado, entre 2003 e abril de 2005, que apontava movimentações de R$ 101 milhões por meio de uma conta bancária não registrada no sistema de controle do erário baiano, certamente, iria tirar a mão do queixo e sair correndo, como outra obra do artista, “Homem que anda”. Leia mais: http://www.emilianojose.com.br/cartacapital_366.htm
Como os franceses estão no meio desta roda baiana, um alerta do filósofo Michel Foucault responde bem a um comentário despolitizado de um antropólogo meia boca que fala aos sete cantos de Salvador por meio de uma rádio local. Foucault vem bem a calhar. "É preciso admitir um jogo complexo e instável em que o discurso pode ser, ao mesmo tempo, instrumento e efeito de poder, e também obstáculo, escora, ponto de resistência e ponto de partida de uma estratégia oposta. O discurso veicula e produz poder, reforça-o mas também o mina, expõe, debilita e permite barrá-lo". Ou seja: não há um mundo dividido entre dois discursos, admitido ou excluído, dominante ou dominado. O que existe é um oportunismo deslavado de quadrilhas que se instalaram na Bahia por décadas.
Mas, é cabal apontar o quanto fez mal aos baianos e a imagem da Bahia as maracutaias orquestradas pelos caciques de outrora. Dos R$ 101 milhões, R$ 48,1 milhões foram depositados nas contas de uma agência de publicidade, muita ligada a um famigerado clã baiano. O duto percorria um trajeto nebuloso, que incluía governo e ONG pouco ortodoxa. Apesar da atual gestão não possuir qualquer vinculo com as operações anteriores, qualquer pessoa sensata deduziria que se a lama do passado viesse à cena neste cenário belíssimo proporcionado pelo esforço do governo Wagner, o lodo deles poderia encobrir a brilhante obra de Auguste Rodin em exposição na Bahia. Por fim, fica uma sugestão aos maledicentes línguas do carlismo. Calem as bocas e vão bater na “Porta do Inferno”.
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Sócrates Santana
jornalista
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