Snowden. Ou o fim da utopia cibernética


O subtítulo é uma díade que caprichosamente deixa a resposta com a audiência, Herói ou traidor. Snowden, mais uma obra do cinema político do diretor Oliver Stone, conta a saga do ex-técnico da CIA e da NSA, o analista de sistemas Edward Snowden, que hoje vive exilado na Rússia. Aos 29 anos, o caçador de hackers da Agência Nacional de Segurança estadunidense entendeu que o trabalho que realizava integrava um grande panóptico internacional promovido pela maior potência econômica e militar do planeta.
O jovem programador resolveu vazar a trama para dois grandes veículos internacionais de imprensa, o jornal norte-americano Whashington Post e o diário londrino The Guardian. A atitude provocou grave crise diplomática envolvendo nações de quase todos os continentes. E pôs a diplomacia dos EUA em xeque diante de denúncias que provocaram ainda mais fissuras nas placas tectônicas da geopolítica mundial.     
Ninguém esta a salvo da treta owerlliana. O filme demonstra que não há limites para a bisbilhotagem perpetrada pelos EUA. De um simples executivo do Paquistão a chefes de estado, a exemplo de Hugo Chávez, Dilma Rousseff, Evo Morales, entre outros, os sistemas de espionagem do império desenvolvem tecnologias digitais capazes de invadir contas de e-mails e acessar dados sigilosos de líderes e organizações mundiais. Informações estratégicas à segurança interna de muitos países. Para tal, contam com a parcimônia e colaboração de empresas como a Google, Yahoo, Facebook e outros players. Velhas táticas em novas mídias.
O filme mergulha em pormenores da ciberguerra em curso. Uma tampa aberta de um laptop, mesmo que desligado, é o bastante para transformar a câmera num olho dos agentes da NSA, onde eles estejam. 
Com 2h14 de duração, o longa é estrelado pelos atores Joseph Gordon-Levitt, que interpreta Snowden, e Shailene Woodley, que assume o papel da sua namorada, Lindsay Mills.
Os fatos narrados ocorreram antes da disputa à Casa Branca, no ano passado. Todavia, expõem a postura tragicômica do governo dos EUA ao tentar retaliar a Rússia, culpando-a pelos ataques hackers desferidos à campanha de Hilary Clinton. Bisbilhotar a quem bisbilhota deve incomodar bastante.
Com muitas passagens em narrativa documental e roteiro bem amarrado, o filme também apresenta personagens que têm desempenhado papel relevante no jogo da mídia internacional. Dois deles: o jornalista Glenn Greenwald, interpretado por Zachary Quinto, e a documentarista Laura Poitras, vivida pela atriz Melissa Leo.
Greenwald reside atualmente no Rio de Janeiro e foi o fundador do site noticioso The Intercept Brasil, um dos canais mais atuantes da contra-narrativa midiática ao golpe parlamentar de 2016, que desmantelou a jovem e incipiente democracia brasileira.
Snowden é mais um filme que denuncia o sepultamento do sonho de um amanhecer mundial no qual a Internet teria papel fundamental na construção de sociedades livres e colaborativas.
Não há utopia. A guerra digital é a ante-sala onde tanques e mísseis do século XXI têm se acomodado. A destruição das privacidades antecede a imolação física. Tomando emprestado a Walter Benjamin, a barbárie está ganhando das utopias.      

Comentários

Marla Sampaio disse…
Caiu na rede é peixe!!!

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