Pouco se informa acerca do golpe militar em Honduras



Os fantasmas voltaram. O golpe militar ocorrido em Honduras no último domingo (28), que depôs o presidente Manoel Zelaya, retoma um espectro tenebroso no continente latino-americano, que durante décadas registrou quarteladas patrocinadas por elites econômicas locais em associação com interesses estadunidenses. As últimas informações dão conta do agravamento da situação. O governo golpista instaurou o estado de sítio no país. Depois de anunciar que estenderia o toque de recolher até a sexta-feira, o ilegítimo presidente Roberto Micheletti decidiu ir mais longe e propôs ao Congresso a supressão de liberdades individuais. As medidas estabelecem que as pessoas possam ser detidas pelas Forças Armadas e pela polícia sem acusação formal por mais de 24 horas. Os direitos de manifestação, inviolabilidade de domicílio, de reunião, associação e liberdade de circulação estão suprimidos. O golpe está sendo repudiado por unanimidade pelos países-membros da Organização dos Estados Americanos (OEA); incluindo até os Estados Unidos. A OEA tinha dado prazo de 72 horas para que o presidente hondurenho reassumisse o poder incondicionalmente. Zelaya foi retirado da sua residência, em Tegucigalpa, capital de Honduras, quando se encontrava dormindo, e levado à Costa Rica numa ação perpetrada por soldados armados. O golpe de estado teve como objetivo barrar a consulta popular que poderia levar o país a uma nova assembleia constituinte. A ordem para a execução foi dada pela Corte Suprema de Justiça de Honduras. O órgão argumentou que ordenou a expulsão do presidente dada a sua insistência em realizar a consulta, que considerou parte de seu interesse em reeleger-se. Ministros ligados ao presidente deposto, por sua vez, acusam integrantes da alta elite econômica hondurenha de orquestrar o movimento militar com o apoio de setores das forças armadas e do poder judiciário local. A iniciativa militar está sendo repudiada pela maioria da população, que tomou as ruas das principais cidades do país para protestar. O golpe contra o povo hondurenho é mais um item na estratégia dos setores reacionários do continente, que visa barrar os avanços democráticos encetados a partir das experiências vivenciadas na maior parte dos países da América Latina, a exemplo do Brasil, Argentina, Bolívia, Venezuela, Paraguai, Equador, Nicarágua e El Salvador. Desta vez, a insurgência partiu de um grupo de 13 famílias locais que controlam a maior parte da economia de Honduras. O que lá ocorreu é prato da mesma receita que se intentou experimentar na Venezuela, em 2002; e na Bolívia, recentemente, com a ação de grupos de assalto, a exemplo da União Juvenil Cruzenha, organização fascista que luta pela desestabilização do governo de Evo Morales. O golpe em Honduras tem data de vencimento. Diante do isolamento que está sendo submetido pela comunidade internacional, e com o acirramento da resistência popular, não se prevê longo tempo na aventura da quartelada.

Mídia brasileira começa mostrar sua verdadeira face


O declínio em apoiar o golpe, pelo menos de forma aberta, vai dando lugar a um tímido apoio, que tende a crescer. Todavia, aos poucos o poder midiocrático brasileiro vai mostrando suas veias abertas. As iniciativas em “cobrir” o golpe e noticiar o repúdio internacional têm evoluído para as “explicações” de meso-justificativas acerca do fato. São posições que transitam desde a postura do pretenso-teórico fascista da versão on-line da revista Veja, Reinaldo Azevedo, que assume peremptoriamente a defesa da quebra do regime democrático em Honduras, às “fagulhas” que começam a flamejar nos jornais e tv’s tradicionais e hegemônicos. Essa estratégia é concomitante ao “esfriamento” da cobertura e à inclinação às vozes que justificam a ação militar. A TV Globo, por exemplo, tem frisado reiteradas vezes os “17 crimes” que supostamente são debitados a Manoel Zelaya. No Jornal Nacional desta sexta a cobertura voltou-se às opiniões de porta-vozes dos golpistas, assim como à manifestação dos seus apoiadores. O mesmo ocorre na Folha de São Paulo e no Estadão. Por outro lado, a conjuntura sociopolítica e econômica de Honduras não é debatida nem revelada a contento, lançando uma nuvem de desinformação que não tem outro objetivo senão confundir a opinião daqueles que consomem suas informações. A ideia é começar a sedimentar uma opinião publicada para, aos poucos, legitimar a iniciativa golpista em Honduras, país que já serviu de quintal norte-americano para a desestabilização da Revolução da Nicarágua. Os fatos que de agora em diante se seguirão no noticiário começarão a fazer a leitura que desaguará para a legitimação do golpe. É apostar pra ver.

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