O DEM e o PSDB têm medo da Internet?
Dentre os itens contemplados nas discussões da mini-reforma política debatida no Congresso Nacional, o mais polêmico recai no uso da Internet na campanha eleitoral de 2010. De um lado, boa parte das oposições – sob a batuta dos senadores Marco Maciel (DEM-PE) e Eduardo Azeredo (PSDB-MG) - querendo censurar, fiscalizar e tutelar o uso político da rede mundial; do outro, os partidos de esquerda e aqueles alinhados ao Governo que desejam o uso livre da Internet. Explica-se a preocupação dos primeiros. A sociedade mundial passa por um processo de transformação no qual a mídia tem tido papel fundamental, e com um adendo: cada vez mais os meios de comunicação corporativos perdem espaços para as mídias alternativas, entre elas as redes sociais e a blogosfera. O efeito denominado de “pedra no lago”, ou seja, a possibilidade de formação de ondas de opinião pública a partir de poucos centros irradiadores – grandes redes de TV, revistas semanais e jornais tradicionais – esvai-se ante o crescimento dessas novas ferramentas de comunicação. A unidirecionalidade dos fluxos de discursos dá lugar à multidirecionalidade. Os processos da democracia participativa vão se tornando mais intensos. Saber o que se passa em Honduras ou em Xique-Xique na Bahia é apenas uma opção de tecla. Do ponto de vista social, o uso da Internet tem arrebatado contingentes cada vez maiores em segmentos de renda da população constelados na chamada classe média emergente, ou classe C. No final do ano de 2008, segundo dados da TGI Brasil Consultoria em Gestão, a participação desses grupos na Internet atingiu o percentual de 39%. A expectativa é de que até dezembro próximo chegue a 45%, o que equivale a cerca de 68,5 milhões de pessoas. Trata-se de uma incorporação, em quatro meses, de 6,2 milhões de pessoas com idade acima de 16 anos. Detalhe: no Brasil, de acordo com dados do Ibope Nielsen Online, o tempo médio de permanência na rede atinge a marca de 30 horas por mês. Estes números refletem o estímulo à aquisição de equipamentos por parte do Governo Federal. No ano passado foram vendidos 12 milhões de computadores e no primeiro semestre deste ano mais 4,8 milhões de aparelhos. Já no que diz respeito aos links de acesso, a banda larga deu um salto de 45,9% em 2008 em relação a 2007. A mídia não é mais a mesma. E esta é uma realidade perigosa para muitos interesses politicos que sempre balizaram suas atuações sustentados nos discursos das mídias hegemônicas, unidirecionais. Se, por exemplo, um determinado veiculo de jornalismo enquadra a informação de uma fonte conforme seus interesses politicos e econômicos, pode, literalmente, dar com os burros n’água. O exemplo atual do blog da Petrobrás é emblemático. As fontes agora podem dispor de ferramentas de comunicação e lançar mão de textos, fotos e vídeos, ocupando espaços cujo limite é o planeta. Além do que, as comunidades e redes sociais têm sido fatores de constructos da democracia e governança digitais. E é por esse terreno caudaloso que a política tradicional não desejaria trilhar. Perde-se também importância o velho caciquismo do colunismo político, que tem se transformado em verdadeiras múmias vivas nas páginas dos jornalões e nas TV’s. Pensam ser formadores hegemônicos de opinião, mas não são mais. Se Antonio Gramsci vivo estivesse adoraria analisar esse novo laboratório, uma resposta dialética da história nas superestruturas das sociedades. Por isso o desejo de controle da rede, uma vez que estas novas formas de sociabilidade podem por em xeque velhas manobras e engenharias midiáticas que até então jogavam solto. A midiopolítica é um front de luta onde as regras estão deixando de ser ditadas pelos que se entendiam donos do ring. Agora é a vez da platéia.
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