As máscaras vão caindo
E as máscaras vão caindo. Aos poucos, a cobertura do golpe de estado em Honduras por parte dos jornalões, revistas semanais e redes comerciais de TV vai assumindo sua postura pró-quartelada. Talvez, saudades de 1954, 1961 e 1964. A Rede Globo, por exemplo, fez até a peripécia de entrevistar na semana passada um cientista político argentino para legitimar sua posição favorável à inconstitucionalidade em Honduras, ou seja, de apoio explícito ao golpe; já a revista Veja, não escondendo sua inclinação de extrema-direita, dedicou a capa da edição dessa semana para atacar a política externa do Itamarati. A exceção ficou por conta, apenas, da Carta Capital, que assumiu postura equilibrada frente ao fato, ou melhor, a única que se predispôs a fazer jornalismo. Enquanto isso, o processo hondurenho vai se deslocando para o fascismo. O governo de Roberto Micheletti editou uma espécie de AI-5 no seu país, fechou emissoras de televisão, proibiu reunião pública e restituiu o toque de recolher. Honduras está sob uma ditadura civil-militar. Nesse enredo, até o velho oligarca José Sarney, que durante meses serviu de saco de pancada dos seus antigos aliados, foi ressuscitado pelos algozes para se posicionar contra a decisão do Planalto de dar abrigo político ao presidente hondurenho deposto, Manuel Zelaya. “A sede diplomática não pode ser usada para a abordagem de assuntos internos de outro país”, disparou o bigode maranhense, para depois concluir: “Zelaya e seus seguidores transformaram a embaixada em um comitê político". As luvas finalmente encaixam-se nos dedos. Na Bahia, isso mesmo, os “colunistas”, ou colonissos locais, embarcaram em bloco no discurso de que “o governo do Brasil está fazendo o jogo de Chávez”; outros insistem “na trapalhada do Itamarati”. Quanta pobreza de argumento! O golpe no país centro-americano está sendo repudiado pela ONU e pela OEA e o governo de Micheletti não é reconhecido por nenhum país do mundo! No entanto, ganha o reconhecimento da mídia demotucana e seus representantes no Congresso Nacional. A sanha criptofascista da UDN ainda se faz presente, passados mais de cinquenta anos. E dela emana um fantasma que liquidifica suas insatisfações numa série de discursos que concatena novelos por vezes imperceptíveis. Fios que unem o ódio ao Programa Bolsa Família, à ação dos movimentos sociais ou ao apoio à restauração democrática em Honduras. Para essa gente, o que ocorre em Honduras tem como único responsável o próprio Zelaya. Imagina, como um presidente “ousa” ouvir a população do seu país para saber se esta deseja mudanças na Constituição? Enfim, a entourage midiática demotucana – e golpista, claro - sempre terá suas bruxas para queimar em praça pública. E assim sempre foi.
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Sócrates