A técnica e o político
Herbert Marcuse já alertava contra os argumentos que empulhavam o político em nome da "técnica"
Há alguns dias fui cobrado sobre uma pretensa tensão existente entre os posicionamentos técnico e político. A mim foi lançado o argumento de que estes seriam estanques, decompartilhados, e que percorreriam explicações díspares. Tal qual foi sugerido, a explicação “técnica” se encarregaria de suplantar o aspecto político, mesmo em se tratando de iniciativas do Estado e, via de consequência, do poder público. Compro esse debate. Em que medida uma ação ou determinada política pública que segue uma diretriz de um projeto político pode ser dimensionada como uma ferramenta eminentemente “técnica”? Existe uma economia “técnica”? Ou mesmo uma gestão pública apenas “técnica”? É o mesmo que sugeri uma ciência social neutra, ou algo equivalente. Isso não existe. A armadilha funcionalista já tentou alçapar os movimentos da sociedade nas suas explicações, incluindo ai a política e a economia. Um grande engano que se embrenhou em teses decaidas e fagocitadas pelas dinâmicas sociais. Desafio apontar um só momento e movimento na história social, política e econômica onde a “técnica” emergiu como algo dissociado de um sentido ideológico. Ainda nos anos 30 o filósofo alemão Herbert Marcuse alertava quanto a esta questão. Os processos de transformação e mudança na sociedade, incluindo muitas vezes o Estado como motor sistêmico para tal, não se originam de “tecnologias gerenciais” e sim de respostas às demandas socias. Karl Marx aponta que as idéias não existem para explicar a realidade; ao contrário, é a própria realidade que explica a existência das idéias, já que estas servem de justificativa àqueles que estabelecem seus mecanismos de controle sobre as complexas relações de poder no âmbito do Estado e da sociedade. A técnica é, portanto, uma reposta a uma proposição política, uma vez que não há como desvencilhar uma da outra no contexto da gestão pública. Tarefa impossível. Lanço aí o debate àqueles que desejem o contraponto. Estou à disposição.
Há alguns dias fui cobrado sobre uma pretensa tensão existente entre os posicionamentos técnico e político. A mim foi lançado o argumento de que estes seriam estanques, decompartilhados, e que percorreriam explicações díspares. Tal qual foi sugerido, a explicação “técnica” se encarregaria de suplantar o aspecto político, mesmo em se tratando de iniciativas do Estado e, via de consequência, do poder público. Compro esse debate. Em que medida uma ação ou determinada política pública que segue uma diretriz de um projeto político pode ser dimensionada como uma ferramenta eminentemente “técnica”? Existe uma economia “técnica”? Ou mesmo uma gestão pública apenas “técnica”? É o mesmo que sugeri uma ciência social neutra, ou algo equivalente. Isso não existe. A armadilha funcionalista já tentou alçapar os movimentos da sociedade nas suas explicações, incluindo ai a política e a economia. Um grande engano que se embrenhou em teses decaidas e fagocitadas pelas dinâmicas sociais. Desafio apontar um só momento e movimento na história social, política e econômica onde a “técnica” emergiu como algo dissociado de um sentido ideológico. Ainda nos anos 30 o filósofo alemão Herbert Marcuse alertava quanto a esta questão. Os processos de transformação e mudança na sociedade, incluindo muitas vezes o Estado como motor sistêmico para tal, não se originam de “tecnologias gerenciais” e sim de respostas às demandas socias. Karl Marx aponta que as idéias não existem para explicar a realidade; ao contrário, é a própria realidade que explica a existência das idéias, já que estas servem de justificativa àqueles que estabelecem seus mecanismos de controle sobre as complexas relações de poder no âmbito do Estado e da sociedade. A técnica é, portanto, uma reposta a uma proposição política, uma vez que não há como desvencilhar uma da outra no contexto da gestão pública. Tarefa impossível. Lanço aí o debate àqueles que desejem o contraponto. Estou à disposição.
Comentários
Carecemos de comentários tão lúcidos quanto "A técnica e o político".
Ser normal, por se tratar de uma simples questão de consenso, custa caro: a consciência. Decidi não pagar tal preço. Certamente, não fui nem serei o único. Seus textos são provas disso. E isso me deixa um pouco mais confortável.
Acreditar numa técnica desvencilhada da ideologia é um luxo dos que pagaram com a razão para serem aceitos no rol dos normais.
Há um poema do Brecht que, talvez defina bem, essa nossa (se me permite) decisão:
ELOGIO DO REVOLUCIONÁRIO
Quando aumenta a repressão, muitos desanimam.
Mas a coragem dele aumenta.
Organiza sua luta pelo salário, pelo pão
e pela conquista do poder.
Interroga a propriedade:
De onde vens?
Pergunta a cada idéia:
Serves a quem?
Ali onde todos calam, ele fala
E onde reina a opressão e se acusa o destino,
ele cita os nomes.
À mesa onde ele se senta
se senta a insatisfação.
À comida sabe mal e a sala se torna estreita.
Aonde o vai a revolta
e de onde o expulsam
persiste a agitação.
Bertolt Brecht
Abraços!
- Lula, é mais barato comprar pronta. Vamos economizar R$ 30 mi.
Lula respondeu:
- Vamos ganhar R$ 30 mi por mês daqui 4 anos. Vamos gerar mão de obra qualificada e exportar plataformas para o resto do mundo depois.
Pois é. Será que a técnica pode viver sem a política.
O pior é separar gestão pública (meu Deus, quanta bobagem) de política.
Sugiro uma leitura de base, bem básica. Leia a história (didática mesmo, dos livros do ginásio servem) da Grécia Antiga. Vá aprender o que é público e depois fale ou pense sobre o que ainda não sabe da missa a metade.
Sócrates