Reação já, Wagner!



Nunca um governo da Bahia foi tão cobrado como o atual, sob o comando de Jaques Wagner (PT). Existe uma espécie de “venezuelização” à baiana nos últimos oito meses. O intuito é claro: desconstruir a imagem do governo que encerrou o comando carlista que há 16 anos ininterruptos mandava no Estado com mão de ferro. E não é com a morte do senador, patriarca do clã e Don Corleone tupiniquim, que a artilharia cessaria. A propósito, foi com muita propriedade que o cientista político Paulo Fábio Dantas levantou essa tese em opinião publicada no jornal A Tarde. Para ele, o carlismo não se resumiria à pessoa de ACM em si, mas numa espécie de modos operandi das classes dominantes e oligarquias do Estado. Correto. O legado dos desmandos de décadas em relação à saúde, educação e segurança pública virou munição contra o atual governo. Sem ao menos ter tido tempo para um diagnóstico mais apurado da situação, a gestão de Wagner é violentamente cobrada como se responsável fosse pelo quadro. E os meios de comunicação são os pincéis usados para a pintura de uma aquarela sinistra em tons sombrios. O que mais notabilizou o carlismo foi o uso da máquina pública para financiar grupos e projetos de interesses privados, uma espécie de clube do bolinha, verdadeira patota que se aboletava e enriquecia às custas do erário. Os tentáculos irradiavam-se em todos os setores da economia. Comando de um único homem que delegava a um único grupo. Todavia, quando é iniciada uma gestão que abre canais de discussões com as demandas sociais, impõe práticas democráticas de decisão, apresenta total transparência do orçamento público e estabelece uma mesa de negociação permanente com os servidores públicos, esta fica suscetível às mais radicais críticas e comentários. Estamos diante, sim, de um embate de hegemonias, na qual as velhas estruturas políticas, mas ainda com alto calibre e poder de fogo, principalmente midiático, buscam recompor os espaços perdidos e se colocam como “novas” opções de poder. Isso porque é sensível a mudança de eixo da atual gestão, ainda que a mesma se apresente como uma aliança permeada por amplo leque ideológico. Frente política que para ser administrada requer cintura de bailarina e seriedade de propósitos. É maioria parlamentar assemelhada à placa de gelo fino em meio a verão escaldante, mas necessária à governabilidade que visa, sobretudo, reconduzir o Estado ao patamar do embate político civilizado, o que antes não ocorria. No que se refere às políticas públicas, por exemplo, estas já dão claros sinais de opção por programas que resultem em investimentos voltados à agricultura familiar, micro-crédito, incentivos a pequenos e médios negócios, infra-estrutura em comunidades menos favorecidas, incremento dos recursos humanos e materiais nas áreas de saúde, entre outras medidas. Notadamente que a reação da Bahia quatrocentona faz coro com a reação das elites nacionais, imperando preconceitos e resistências às mudanças. Aqui o Cansei não precisa nem se articular, já que se trata de fenômeno atávico da própria estrutura psico-social das aristocracias locais, que ainda sentem saudades da casa grande como se fosse ontem. Diante de tudo isso, urge reação imediata do governo Wagner. O grupo político no poder tem que falar. Tem que se apresentar à sociedade e apontar o que está sendo feito e o que outrora não era realizado. Tem que desconstruir mitos que se enraizaram como verdadeiros arquétipicos no inconsciente dos baianos. Herança horrenda do mandonismo, da força arbitrária que “resolvia” na fachada, mas que angariava capital político na troca de favores e no chantagismo barato. Quem não se lembra das passagens públicas de ACM aos gritos de “esse é o homem”. Substituição de paternidade pela podagem da reflexão crítica da realidade. E assim o Estado foi forjado, narcotizado por uma lógica do poder de “um homem”, que era o mecenas da cultura, das artes, modernizador econômico, senhor de tudo, inclusive da violência física e política. Fascismo em alto grau de refinamento. É hora de dizer, de usar os parcos recursos midiáticos disponíveis para buscar neutralizar a avalanche de acusações construídas pela oposição. A Bahia, no cenário de representação edificado por tais setores na mídia, se tornou um “Estado em crise”. Espessa névoa açodada com o intuito de nublar a realidade. E falando em realidade, qual o motivo que levava as TV´s, rádios e jornais locais falarem nada ou pouco dos catastróficos índices sociais da Bahia quando estava sob o tacão das gestões anteriores, todas títeres do carlismo? Ou quando falavam, não escandalizam como fazem agora. E o caso Axéduto? O caixa dois do carlismo apenas foi noticiado pela revista Carta Capital em matéria assinada pelo jornalista Leandro Fortes. Na seara local, falas esparsas ou mudez de conveniência, apenas. De resto, microatritos temporãos e notas vagas de articulistas e comentaristas que não deram prosseguimento ao caso. É a Bahia dos velhos donos que não admite alternância de poder, apenas o concede quando seus interesses se sobrepõem aos da maioria da população.

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