Condolezza Rice na Bahia, o rescaldo
O grande evento midiático da semana passada na capital dos baianos foi, sem sombra de dúvida, a visita da secretária de Estado dos Estados Unidos Condolezza Rice. A justificativa da visita a Salvador foi conhecer projetos educacionais de uma concessionária local de distribuição de energia em parceria com entidades do seu país. Durante a estadia de menos de dois dias, a porta-voz dos interesses de Washington usou fitinhas do Bomfim, tocou pandeiro com o ministro Gilberto Gil e assistiu a rodas de capoeiras enquanto distribuía sorrisos e seus seguranças safanões em quem se atrevesse chegar a menos de quinze metros dela. Uma testemunha que se encontrava na empresa visitada – também funcionária da mesma - relatou a agressão de um agente da Casa Branca a um cinegrafista de uma emissora local. Segundo o relato, o gringo brutamontes desfechou uma braçada no profissional que chamou atenção de uma agente da Polícia Federal que se encontrava próxima. De forma altiva, a agente partiu pra cima do gorila de Condolezza e lhe disse, em português claro e tom elevado: “Aqui é o Brasil e aqui mando eu, não vocês! Nós é que decidimos sobre os métodos de segurança”. Na mesma empresa, a assessoria de comunicação vibrava com a mídia espontânea patrocinada pela ilustre presença, já que imagens da secretária estavam chegando aos quatro cantos do mundo figurando na retaguarda a logomarca da concessionária. Mas o ponto alto da visita foi a entrevista concedida com exclusividade à Rede Globo por intermédio do seu repórter, William Waack. Sempre levantando a bola de Condolezza, Waack não escondia a missão dada pelo chefe Ali Kamel em aproveitar o momento para, a partir do conflito recente na fronteira entre Equador e Venezuela, reforçar a posição dos setores republicanos dos Estados Unidos. Elogiando o Brasil e definindo o país como uma liderança do continente, a secretária de Estado de George Bush armou o biombo perfeito para defenestrar o governo Venezuelano e enaltecer o apoio a Álvaro Uribe, presidente da Colômbia e títere dos interesses estadunidenses. Uma dessas levantadas de bola se deu quando o jornalista da Globo perguntou a Condolezza a respeito das “ações dos narcotraficantes das Farcs”. E a resposta, a previsível: “O nosso governo é contrário às forças terroristas que seqüestram pessoas inocentes”. Como William Wack não atuava como repórter e sim como levantador de bolas, faltou a tensão necessária caso à frente da secretária se encontrasse, de fato, a atuação de um jornalista. E sobre os grupos paramilitares assassinos ligados a Uribe, senhor Wack, nenhuma pergunta? E quanto às graves acusações que também pesam sobre ele acerca de envolvimento com narcotraficantes, que inclusive exercem cargos no seu governo? Nada, nobre Wack? Depois das bolas terem sido devidamente rebatidas por Condolezza, à semelhança de um logral ensaiado, a entrevista findou no belo cenário da orla do bairro do Rio Vermelho. Por do sol às costas, vieram as amenidades: a nova paixão da secretária, a cidade do Salvador, e o desejo da mesma de retornar para passear. E o “tema” foi a chamada do Jornal nacional daquele dia. Belo Jornalismo.
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