Michael Moore ataca novamente
Cortar na própria carne talvez seja o propósito do novo documentário do cineasta Michael Moore, Sicko ($O$ Saúde), já em exibição no país. Agulha e linha à mão, um cidadão estadunidense tenta costurar um ferimento na perna, a seco. Ele afirma não ter seguro-saúde para ser atendido por um serviço médico. É a primeira cena, o primeiro momento de uma denúncia que põe a nu o sistema de saúde no império do capitalismo internacional. Alguns críticos têm dito que Moore retorna à mesma estratégia de descortinar as contradições da sociedade norte-americana. Mas se elas existem? Comparando os serviços de saúde do seu país com os oferecidos no Canadá, Inglaterra, França e Cuba, o documentarista revela uma faceta cruel: os Estados Unidos não são dotados de atendimento universal para todos os seus cidadãos. Alguns depoimentos beiram ao macabro. Um trabalhador que teve que optar pelo implante de um dos dois dedos ceifados num acidente de trabalho, pois não tinha recursos para a cirurgia de ambos; um casal de idade provecta que foi obrigado a vender a casa para custear o tratamento de um câncer na mulher; uma mãe que viu a filha morrer nos braços por falta de atendimento; pessoas em pleno gozo de saúde rejeitadas por seguradoras por terem uma herpes banal; e uma paciente com cerca de 60 anos que foi deixada no meio da rua por um hospital porque seu “seguro” não permitiu que ela continuasse internada. O documentário traz também denúncias de corretores e médicos que relatam ordens e “metas” exigidas por empresas que exploram o segmento, a exemplo da poderosa Aetna. Mas o que pode ter deixado mais possesso o estabileshment estadunidense é a maneira como o documentário revela as relações das empresas seguradoras de saúde e a classe política local. Parlamentares, democratas e republicanos, citados por receberem milionárias doações de campanhas das seguradoras e o histórico que facilitou a entrada do grande capital na exploração da saúde pública dos Estados Unidos, desde a era Nixon até o momento George Bush Jr. Lucros é o que interessa, sempre! Respondendo ao repórter Michel Guerrin, do jornal francês Le Monde, o documentarista afirma: "Os Estados Unidos são o único país ocidental a não dispor de cobertura social universal, e o único onde as operadoras de planos de saúde recebem dinheiro público. O objetivo delas não é curar as pessoas, mas maximizar os lucros". O cineasta se refere a uma sociedade onde 1/3 da população não conta com nenhum serviço de saúde. E Moore não deixa por menos, aplicando o golpe final numa provocação que afronta os brios do conservadorismo norte-americano. O cineasta resgata 11 pessoas que trabalharam como voluntárias no episódio do 11 de setembro e que se encontram doentes em decorrência dos efeitos colaterais do desabamento das torres gêmeas. Os chamados heróis nacionais, como foram ovacionados à época, não têm como se tratar dignamente, já que o Estado norte-americano não os ampara. Moore os coloca num iate e os leva para Havana, Cuba, onde são atendidos por um serviço público de saúde melhor do que no país de origem. É o gran finale com tapa de luva de pelica, mas que mais se assemelha a um toque de proctologista. Com roteiro bem amarrado e boa produção, trata-se de um grande filme, brilhante!
Comentários
Você tem que fazer um cadastro no site Making Off antes. Mas não é nenhum bicho de sete cabeças.
Abraços!
o endereço correto é elogiorevolucionario.blogspot.com (sem 'do').
Vale a pena assistir aos outros filmes recomendados pelo blog.
Abraços!
Inclusive, o Moore teve problemas para viajar para Cuba.
Então...vamos fazer o nosso documentário sobre a saúde; Sugiro um tema: doação de rins no país.
Quero muito ver o filme, o texto deixou o tal do gostinho de 'quero mais'.
Axé sempre
Mel
Vale a pena baixar o filme, tão bom quantos os outros dois de Moore!