Dúbias posições
A absolvição do mandante do assassino da irmã Dorothy Stang (foto) não preocupou os editorialistas dos grandes jornais e demais meios de comunicação
O país ficou perplexo na semana passada com a absolvição do fazendeiro Vitalmiro Bastos Moura, o Bida, acusado de ser o mandante do assassinado da missionária Dorothy Stang em 2005. Conhecida por seu trabalho em defesa da reforma agrária, pelo reflorestamento de áreas degradadas e pelo esforço em minimizar os conflitos do campo no estado do Pará, a irmã Dorothy foi vítima de empresários ligados ao agronegócio. Vitalmiro havia sido condenado a 30 anos de prisão no primeiro júri. No segundo, apenas o seu capanga, o pistoleiro Rayfran das Neves, o Fogoió, foi condenado a 28 anos. Fogoió mudou seu depoimento 14 vezes ao longo do processo. Ainda que os meios de comunicação tenham dado ampla cobertura à decisão da “Justiça”, o caso requer uma análise mais profunda. As empresas jornalísticas e o Poder Judiciário são historicamente instituições conservadoras que reforçam a desigualdade social no país quando deveriam ser árbitros para garantir a igualdade e a justiça. A estranha decisão do tribunal paraense não mereceu nenhum editorial que questionasse o ato por parte dos grandes meios de comunicação. Todos se esconderam numa nítida demonstração de solidariedade de classe. Vozes que por vezes se apresentam veementes quando se trata ou se tratou de dar eco a factoídes, calaram-se perante a um flagrante desrespeito aos direitos humanos, ainda que se mostrem extremamente contundentes quando é para criminalizar e demonizar as ações dos movimentos sociais. E mesmo na cobertura do julgamento, as matérias veiculadas se limitaram a apresentar o fato sem o devido registro dos antecedentes que os norteia. Pautas evasivas. Numa certa emissora de televisão, a irmã Dorothy foi apresentada apenas como uma “defensora da floresta”, não informando os pormenores da luta que ela travava e os motivos reais do seu assassinato. Sumiram também os “analistas”, aqueles “especialistas” que sabem tudo do nada e nenhuma repercussão com as autoridades do Vaticano. O Estado Papal não se pronunciou e era mais do que lógico saber os porquês dessa indiferença. É como se quisessem dissolver o episódio com uma névoa de desinformação. Quanto à cobertura do Judiciário, totalmente sem base. O que sobrou de alarde ante a decisão, faltou em questionamento. Algum advogado ligado aos movimentos sociais foi convidado a opinar? Sindicalistas da região foram ouvidos? Nada. Restou apenas a velha enunciação do problema como índice. E a cobertura mais densa ficou então dedicada à CPI dos cartões corporativos e ao caso Isabella Nardoni. Compreensível, pelo menos para quem tem olhos mais críticos.
Comentários
Parabéns pelo escrito! Data vênia, vou reproduzir no meu Espaço.