Wagner abre a caixa preta





Já era em tempo. O discurso que o governador Jaques Wagner (PT) proferiu na abertura dos trabalhos da Assembléia Legislativa da Bahia, na tarde de ontem, deixou um recado aos incautos: a sociedade tomará conhecimento, item a item, dos desmandos políticos e administrativos perpetrados pelo PFL baiano ao longo dos 16 anos de comando. “As urnas não derrotaram um governador. Derrotaram um sistema de autoritarismo, incompetência e falta de transparência desses longos anos de domínio oligárquico”, afirmou o governador. A palavra direta usada por Wagner dá o tom da amostra de como anda a situação da máquina pública da Bahia. Há muito que se sabia da inversão de prioridades de um governo que virava as costas para o social e privilegiava a gestão em função da propaganda política demasiada e o atendimento aos grupos econômicos diretamente ligados à claque política dominante ou quem em torno dela orbitasse. Enquanto isso, o Índice de Desenvolvimento Humano da Bahia amargava posições vexatórias. A capital do Estado, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), encontra-se na posição 471 entre os municípios brasileiros. E o Estado como um todo segue o mesmo itinerário. A Bahia é o maior concentrador de renda do país. Quem não se lembra do bombardeio midiático perpetrado pelo governo no último ano da gestão de Paulo Souto (PFL), cuja frase de efeito era: “A Bahia crescendo, o povo feliz, avança Bahia”. Uma afronta à realidade da maioria dos cidadãos baianos. Claro, o alarido das “viúvas” foi imediato. O deputado pefelista Heraldo Rocha, ex-secretário de Trabalho e Bem Estar Social e Justiça de Souto, no primeiro e segundo mandato respectivamente, afirmou que Wagner continua no palanque. Tal afirmação soa pra lá de hipócrita. No palanque eletrônico esteve por 16 anos o grupo ao qual ele pertence, favorecendo-se de amplas verbas publicitárias, canalizadas na sua maior parte para as empresas do senador ACM, seu guru político e chefe de toda matilha expulsa pelo povo baiano em outubro passado. Não há também rancor ou revanchismo, como afirmou outro carlista da oposição, Gildásio Penedo (PFL). O que existe é a exposição ao povo do estado caótico que se encontra o poder público. Usado como um brinquedo pelo carlismo, o Estado foi literalmente vilipendiado em função de interesses escusos. A Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola, cujo objetivo do trabalho é prestar serviço de assistência técnica aos produtores, conta com um passivo trabalhista na ordem de R$ 313 milhões. A Empresa Baiana de Alimentos (EBAL), projetada para vender comida mais barata à população, encerrou a gestão passada quebrada. Seus recursos eram desviados para financiar apoio a artistas de décima - quinta que se faziam de bobos da corte do carlismo. O Estado, por sua vez, contabiliza um déficit calculado em quase R$ 500 milhões. E com este, o que é pior, vem o déficit social. O melhor bactericida é a transparência e a claridade, e é isso que o novo governo deve fazer. Literalmente, escancarar o que havia de putrefo no antigo “reino dos amigos”.

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