Resposta a uma colega



No final da semana passada uma colega da vida acadêmica disparou um pequeno discurso: “...O Estado brasileiro é corrupto (...) não acredito no setor público (...) meu sangue é do mercado...”. Nada falei, nada argumentei. Mas a assertiva me fez pensar como o discurso senso-comum consegue empolgar até mesmo pessoas que militam na vida acadêmica, aquelas das quais esperamos ao menos uma reflexão mais crítica dessa realidade. É como se a corrupção fosse algo inerente apenas ao Estado brasileiro. Um ente atomizado na sociedade sem que historicamente o mesmo nunca tivesse sido constantemente comandado, assediado e controlado pela vontade do mercado, do capital. Quem faz o Estado e o setor público corruptos? É o povo que precisa dos seus serviços num país extremamente excludente? Ou aqueles que ao longo da nossa breve história sempre o utilizaram, interna e externamente, para aumentar a incontrolável desigualdade social na pátria vice-campeã do mundo em concentração de renda? Quem é o corrupto e o corruptor? Talvez a colega não tenha se atinado para isso. É a história do Brasil que aponta a promiscuidade existente entre o público e o privado e como a burguesia nacional conseguiu edificar um Estado serviçal aos seus interesses. Quem lê o trabalho de Raimundo Faoro, Os donos do poder, estudo que combina instrumentos da Sociologia, do Direito, da História e da Ciência Política, entende como o clientelismo e as dificuldades em separar o patrimônio público dos bens privados foram determinantes como obstáculos à construção de um Estado Moderno, baseado nos preceitos legais. Aqui a casa grande apenas evoluiu. A burguesia brasileira nem ao menos queimou a etapa que a européia passou durante os séculos XVIII e XIX. A iluminação foi responsável por legar na Europa o chamado estado de bem estar social, sistema que garantia educação, saúde e razoável qualidade de vida para o conjunto da sociedade, o qual as populações dos países centrais do continente tentam assegurar o que sobra ante o avanço do neoliberalismo. Mas aqui, não. O rolo compressor desenfreado da desregulação do trabalho e da blindagem de segurança social tem sido capaz de desconstruir direitos históricos a partir de um plano refinado do “senhor” mercado. Um chicote estilizado, chamado por uns de pós-modernidade. Na verdade, enquanto a velha e batida reedição da mão invisível da economia aponta para a plausível solução de todos os problemas da sociedade, esse mesmo discurso que argumenta a necessidade de um Estado diminuto e débil é capaz de sugar as benesses do setor público para os interesses de meia dúzia do privado. O capitalista brasileiro não resiste a uma quitanda à frente do seu negócio e sempre estará certo que o Estado lhe garantirá eternamente o doce colo do amparo. O BNDES e demais instituições oficiais de fomento que o digam. Hospitais e instituições privadas de ensino superior, por exemplo, adoram entrar no roll das deduções de impostos se apresentando como beneficentes. Isso lembra o exemplar filme do cineasta Sérgio Bianchi, Quanto vale ou é por quilo? Película que desmascara a tal da “responsabilidade social”, a caridade dissimulada da burguesia brasileira, ávida por lucros, lucros e mais lucros. E quando a coisa supura, haja operação Sanguessuga, Furacão, Navalha etc. E ficam todos boquiabertos quanto ao “ineditismo” dos fatos. Cruzem informações, chequem os dados e vejam como um Zuleido Veras, dono da empresa corruptora Gautama (coitado do Sidarta Buda tendo o nome usado tão em vão), está tão próximo de muitas das nossas cabeças empresariais locais, senhores "distintos" e acima de qualquer suspeita. Claro, são todos do mesmo time, do time que produz o discurso que a eficiência e a moralidade administrativa é centrada no setor privado. Discurso necessário à desconstrução da credibilidade do Estado quando este não lhes serve a contento. No Brasil o capitalismo é de privatização dos lucros e socialização dos prejuízos. Portanto colega, não discordo da sua indignação quanto à corrupção, apenas da sua interpretação que, me desculpe, se apresenta tão ingênua quanto desprovida de reflexão histórica. Não é da natureza do Estado ser corrupto, essa é simplesmente a lógica que move o mercado. É aquela história do mercador de camelos que tece elogios aos seus animais disfarçando-se de cliente para encantar o consumidor. É a história da nossa classe dominante num país onde 0,003% da população concentram 40% da riqueza nacional.

Comentários

Anônimo disse…
Carlinhos, acredito que essa sua "colega" de vida "acadêmica" só deve ter mesmo a experiência de vida, "acadêmica"!!!!
Ela deveria ao menos saber que o Estado, como ente abstrato, é formado por gente, povo, pessoas, enfim.....
Além disso, a corrupção parte quase sempre, senão sempre, do lado de quem está no “mercado”, pois é quem precisa encher o “cofrinho”.
E eu duvido muito que ela não tenha algum parente com o "pé" dentro do Estado!!!!!!
Pronto, se vc não quis respondê-la, eu o fiz!!!!!
Abraços,
Guto.
Anônimo disse…
Carlinhos, acredito que essa sua "colega" de vida "acadêmica" só deve ter mesmo a experiência de vida, "acadêmica"!!!!
Ela deveria ao menos saber que o Estado, como ente abstrato, é formado por gente, povo, pessoas, enfim.....
Além disso, a corrupção parte quase sempre, senão sempre, do lado de quem está no “mercado”, pois é quem precisa encher o “cofrinho”.
E eu duvido muito que ela não tenha algum parente com o "pé" dentro do Estado!!!!!!
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Guto.
Anônimo disse…
Carlinhos, acredito que essa sua "colega" de vida "acadêmica" só deve ter mesmo a experiência de vida, "acadêmica"!!!!
Ela deveria ao menos saber que o Estado, como ente abstrato, é formado por gente, povo, pessoas, enfim.....
Além disso, a corrupção parte quase sempre, senão sempre, do lado de quem está no “mercado”, pois é quem precisa encher o “cofrinho”.
E eu duvido muito que ela não tenha algum parente com o "pé" dentro do Estado!!!!!!
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Guto.

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