Juca Ferreira tem razão


Ministro demonstrou coerência de princípios

Nos anos 90 fui filiado ao Partido Verde. Atuei em duas campanhas para o então líder ambientalista e sociólogo Juca Ferreira, hoje ministro da Cultura - uma para vereador e outra para deputado estadual. Foi um tempo bom. Eu, como muita gente, entendia que o PV era uma nova opção de militância. E era. Apostávamos na possibilidade de oxigenar a política com idéias e bandeiras que quebravam antigos paradigmas, tabus e valores, inclusive dentro do campo das esquerdas. Éramos todos socialistas, mas não debitávamos apenas à luta de classes o papel de transformar a sociedade. Na nossa centrífuga ideológica cabia Marx, Bakunin, Proudhon, Daniel Cohn-Bendit, Sartre, Margareth Mead, Jack Kerouac, Bob Marley, Osho, Renato Russo, Johnny Rotten, Sex Pistols, Raul Seixas, Olodum, Jackson do Pandeiro, Sociedade Alternativa, rango macrobiótico, Caio Fernando Abreu etc...Tínhamos herdado bons germes anárquicos e a pujança das barricadas de 1968, mas buscávamos novas formas de luta. Depois de combater o Regime Militar, queríamos agora política, diversão e arte e todas as tribos alternativas eram mais que bem-vindas. O PV pregava a luta ambiental numa perspectiva libertária, combativa e progressista. Como partido, nos sentíamos como uma espécie de caçula alegre e, sim, às vezes rebelde com os nossos pais, irmãos e tios ideológicos. Peitávamos. Fazia parte. Era da nossa natureza. Mas nas trincheiras estávamos juntos, fosse o PT, PC do B, PDT, PSB e outras agremiações do campo democrático-popular. Ainda que buscássemos posturas e concepções diferentes, tínhamos os pés no chão. Até então, nosso mapa não indicava nenhuma rota à direita. Jamais. Éramos cônscios das nossas responsabilidades históricas. Questão de princípios. Mas eis que o Partido Verde aos poucos foi sendo tomado por proposições que coadunavam mais com o imaginário de ecologistas de butiques, modernosos de ocasião e almofadinhas com cara de nerd. Gente que gostava mais de bicho do que de ser humano. Na Bahia, o PV foi transferindo sua base social da Praia do Rio Vermelho para a Praia do Forte. De laico e libertário, o partido passou a ser integrado por grupelhos de “seres religiosos iluminados” - e com caras de anjo. No cenário nacional, foi se aninhando gradativamente no colo demotucano, abraçando teses neoliberais e conservadoras. Para se ter uma idéia da guinada, uma vereadora do partido no Rio de Janeiro, Aspásia Camargo, assumiu essa semana, em artigo publicado num jornalão conservador, que é contra o Plano Nacional de Direitos Humanos 3. Preferiu a tese dos milicos e torturadores. Que pena, o PV ficou mais próximo do ruralismo protofascista da senadora Kátia Abreu (DEM-TO) e se distanciou das bandeiras dos movimentos sociais e ecológicos. O partido não é mais o mesmo. Entende-se porque os verdes da Europa têm perdido considerável espaço para novas agremiações políticas, como o Partido Anticapitalista e o Partido Pirata. E parece que aqui no Brasil terá o mesmo destino. Juca Ferreira tem razão. O ministro se distanciou em boa hora de uma agremiação política que lamentavelmente assumiu o papelão da quinta coluna, tornando dúbia sua tonalidade de verde, que já não se sabe se é ecológico ou integralista.

Comentários

Iracema Chequer disse…
Adorei o texto! Devia escrever mais em 1ª pessoa, gosto disso!
Beijo!
Anônimo disse…
Quando não se pode ir de frente ataca-se!
Já ví que tudo isso é por causa da atuação da Marina Silva. Essa pode desbancar a Dilma!
Vamos acordar e ver que o P T não é lá essas coisas e que também têm falhas!
Não é

á toa que expulsou quem bateu de frente com os "líderes facistas mascarados".
Zeca Peixoto disse…
Caro anônimo, o bom do debate político é quando as pessoas mostram a cara e não se escondem, seja por vergonha ou medo de defender suas posições. Creio que pode ser este o caso desses "líderes fascistas mascarados" por você mencionado. Quanto a atuação da Marina, quem acompanha pesquisa sabe que ela não representa nenhuma ameaça, a não sr para Serra.
Boa sacada essa da tonalidade do verde: integralista ou ecológico.
Muito boa. Sócrates

É a esquerda que a direita sonha.
Anônimo disse…
parabéns pelo texto. Muito bom. O Juca fez bem de sair do pv. E o Sirks ainda quer tirar onda, reclamando que Juca ficou do lado dos petistas.... e ele que trabalhou no governo de Cesár Maia, no Rio....
Zeca Peixoto disse…
Caro e rancoroso Anônimo, deleto seu comentário porque está ofendendo verbalmente o ministro Juca Ferreira. Utilize argumentos que o espaço está à disposição, mas não me venha com defenestrações públicas. Se quiser fazê-lo, utilize a imprensa de esgoto - Veja e cia - e publique seu pensamento.

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