O voto de Nina; ou como a "realidade" é entendida pelo clubinho dos 5%
Nina tem 28 anos, é auxiliar doméstica, natural de Jacobina, norte da Bahia, e mãe de uma filha de seis. Em quem você vota para presidente? “Lula”, responde sem titubear. - Mas Lula não pode ser candidato, explico. “Então eu voto em quem vai fazer igual a ele”. Depois, Nina emenda: “e lá no interior o povo todo vota nele (em Lula). Só quem não gosta dele (de Lula) lá são os ricos, que diz que o presidente tira deles para dar aos pobres”. Nina está entre os 42% dos brasileiros que declararam votar em quem o presidente apoiar, segundo a última pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha. A sondagem apontou queda de cinco pontos para o candidato José Serra (PSDB), que agora tem 32%, e a ascensão de cinco pontos para a candidata Dilma Roussef (PT), que está com 28%. Estes 42% representam perfis de opinião que desmentem categoricamente as meias-verdades sustentadas por alguns “especialistas” sobre o poder de transferência de votos de Lula. Nina sabe que sua opção decorre de conhecimento próprio, do que tem mudado em sua vida e na dos seus parentes lá da Chapada Diamantina depois que as políticas sociais do Governo passaram a contemplá-los. E é este o cenário que deixa raivoso o clubinho dos 5% das pessoas que detestam o presidente e seu governo. Entre estes, um hoje empresário que conheci nos tempos de colégio, o qual reencontrei numa livraria de um shopping. Numa brevíssima conversa que descambou para a política, ele disparou: “o PT só tem votos aqui no nordeste, com pessoas ignorantes. Veja no sudeste e sul do Brasil, onde as pessoas são mais informadas, se a maioria vota no PT?”, indagou. Estava com preguiça para uma resposta que exigiria análise, e findei o papo: “acho equivocada sua opinião”. Ponto final. No entanto, não repeti a mesma postura durante o feriadão do Carnaval, quando conversava com outros integrantes do clubinho. Eram seis pessoas, todos eleitores de Serra. Depois de exaustiva esgrima, alfinetei: vocês perderão as eleições! A posição do empresário e a dos meus convivas do período momesco denota, de forma candente, o que pode ser entendido por "realidade" a partir das próprias experiências e/ou visão ideológica. Para estes, a “realidade” se confunde com o ódio a um governo que está buscando distribuir mais a renda – “é o meu dinheiro!”, diriam -; ao passo que para Nina, a moça do interior que migrou para a cidade grande em busca de oportunidade, a realidade, objetivamente, é aquela que lhe toca, assim como aos seus. É de viva memória para ela e familiares o passado recente, os anos de descrédito do avanço neoliberal no país, quando o Estado foi debilitado e não pôde, de fato, iniciar a construção de um cinturão de seguridade social. Baixo poder de compra e dificuldades de adquirir até mesmo alimentos e remédios. Assim como Nina, pensam da mesma forma milhões de outras pessoas, que passaram a comer, fazer curso superior, trabalhar, comprar fogão, geladeira, televisão etc. Mas para o clubinho dos 5% supostamente “esclarecidos”, são estes os “ignorantes” que votam em Lula e votarão na sua candidata. Chegam a tal conclusão porque talvez lhes falte a necessária percepção do que seja realidade no sentido strito senso. O clubinho não admite que esta grande maioria de opinião não leia mais na cartilha do subjulgo senhorial que durante séculos grassou por este país. Já para Nina e os seus, o tal clubinho é um obstáculo a superar para continuar caminhando com o governo que lhes acena com mais oportunidades. São estes dois mundos, com suas respectivas visões de realidade, que disputarão o pleito de 2010. Por isso o que se aproxima é um plebiscito entre aqueles que não desejam o retorno ao passado, e os que entendem o presente como um constructo perigoso e que pode lhes ameaçar, à medida que vai lhes tirando gradativamente o cajado do comando.
Comentários
que a gente ainda se anima.´
Essas ninas tão diárias,
Essas ninas que são várias,
Ninas velhas e meninas.
São ninas de todas cores,
são ninas com tanta fome,
são ninas com barrigas
que trazem dentro outras ninas.
Ninas, que no escuro,
só viam na vida um muro
intransponível, tão duro,
duro como o fim da vida.
Ah, Nina, por fim,
vejo em você alegria,
a alegria que um dia
sonhei para tua sina.
E você que sabe das coisas
de lavar pratos, lavar louças,
não perca nunca sua crença,
nem deixe de estar atenta:
se escolheu um presidente,
pode escolher presidenta.
Quanto ao cordel de Rei, sem comentários! MARAVILHOSO!!!