Muito mais do que uma matéria
A guerra midiática já está em curso na Bahia. O alvo é a gestão do governador Jaques Wagner (PT), uma das estrelas emergentes do partido e cotado à sucessão do presidente Lula em 2010. Não, de forma alguma as elites nacionais e o projeto neoliberal admitirão que outro sindicalista assuma a Presidência da República. Ao impor uma derrota amarga ao carlismo na Bahia e iniciar seu desmonte, o governador do Estado deve ficar atento às investidas que, de agora em diante, serão cada vez mais freqüentes por parte do aparato de mídia pertencente ao senador Antônio Carlos Magalhães (PFL), parceiro econômico e político da Rede Globo de Televisão.
Aos fatos. Após o contundente discurso de Wagner na abertura do ano Legislativo na Assembléia do Estado (ver post neste blog), a crise envolvendo o governo e oposição, esta última encarnada no grupo de ACM, ganhou mais um contorno na agenda local. Em matéria divulgada pelo jornal A Tarde na última quinta-feira, dia 22/02, com destaque para chamada de capa, Jaques Wagner acusou a Rede Globo de ter dado destaque à violência no Carnaval baiano. Segundo ele, a matéria exibida pelo Jornal Nacional no último dia da folia, terça-feira, informava o acréscimo de 30% no número de ocorrências policiais registradas no evento desse ano em relação ao ano passado. Na opinião de Wagner, esta teria sido açodada por parte da Vênus Platinada. O governador rebateu com veemência: “Não sei a quem a Globo está prestando o serviço de difamar o Carnaval da Bahia”, alfinetou.
O petardo tem endereço certo. Wagner sabe que tudo que possa macular sua imagem no Estado será feito pelo grupo político agora na oposição. No caso em questão, estamos diante de uma bem estruturada estratégia de mídia. Analisemos por dois aspectos.
O primeiro repousa na forma e maneira encontrada pelas reportagens para dar dimensão ao fato. O enquadramento das notícias seguiu um curso determinado para torná-las negativas. Foi visível a todos que durante os dias da festa o Jornal Nacional apresentou, ou melhor, enquadrou o Carnaval da Bahia como “violento”, apenas. Não se preocupou, em nenhum momento, em trabalhar a informação contextualizando os dados estatísticos. Mais de um milhão de pessoas nas ruas por dia e 1200 registros de roubos e furtos e duas mortes é considerada uma média previsível pelos técnicos e autoridades em segurança pública em se tratando de um evento dessa dimensão. Um disparo contra uma van na periferia da cidade (fora do circuito do Carnaval) e a lamentável morte de uma criança foi realçado pelo Jornal Nacional como resultado da violência na folia baiana. O já falecido sociólogo e jornalista Perseu Abramo, em um ensaio sobre padrões de manipulação na grande mídia, aponta o padrão da inversão como uma das táticas de manipulação. Diz ele: “Fragmentando o fato em aspectos particulares, todos eles descontextualizados, intervém o padrão da inversão, que opera o reordenamento das partes, a troca de lugares e de importância dessas partes, a substituição de umas por outras e prossegue, assim, com a destruição da realidade original e a criação artificial de outra realidade”. Foi exatamente isso o que ocorreu.
Tal expediente coaduna-se com os intentos políticos da Rede Globo e sua parceira comercial-política, a Rede Bahia. Importante ressaltar que o ataque ao Carnaval da Bahia desse ano e, indiretamente, a Jaques Wagner, como já dito, tem o propósito de angariar dividendos políticos. Uma administração pautada no sucesso por parte deste refletirá no tabuleiro sucessório de 2010. Sabe-se que o PT e a coligação de partidos que o apóia no Governo Federal ainda não dispõe de quadros fortes para o próximo pleito. Wagner pode ser um e, diante mão, melhor bombardeá-lo no nascedouro. O Carnaval de Recife desse ano teve mais mortes do que o de Salvador, por quê a Globo então não destacou? E no Rio de janeiro? Lá foi tudo em paz? Ficam as perguntas. Outra: quem conhece a trajetória política do dono da Rede Bahia, o senador ACM, sabe muito bem o que ele pode fazer de agora em diante para recompor seu espaço político perdido. Órfão da Prefeitura e dos governos do Estado e Federal, o carlismo usará de todos os expedientes possíveis, inclusive os mais antiéticos e deploráveis, para retornar ao poder.
Outro fator é de caráter comercial. Desde que a Rede Bandeirantes começou a transmitir o Carnaval de Salvador seus índices de audiência vêm crescendo a cada ano e batido os índices da Globo no período. O Carnaval de Salvador já está sendo mais assistido no Brasil do que os desfiles das escolas de samba. Por sua vez, a afiliada da Vênus Platinada na terra, a TV Bahia, só contou com um grande cotista para bancar a publicidade na transmissão do Carnaval baiano, que ela fez para consumo regional. Apenas uma marca de tintas anunciou. Impedida de transmitir a folia ao vivo na maior parte dos horários da noite, engessada pelo Big Brother, o Sambódromo e o seriado Lost, restou à TV Bahia falar do evento da própria terra quase à meia noite. A Globo, por seu turno, como não abre mão de que o Brasil inteiro assista ao desfile das escolas de samba, um bairrismo que a emissora não assume mas que é patente, busca desconstruir a pluralidade de opções. E com um carioquismo exacerbado, não admite que o Estado do Rio perca receitas em turismo para a Bahia. Um bairrismo, diga-se, que se explica sobretudo pela questão econômica e, no que tange à Bahia de Wagner, com acentuada relevância política.
Aos fatos. Após o contundente discurso de Wagner na abertura do ano Legislativo na Assembléia do Estado (ver post neste blog), a crise envolvendo o governo e oposição, esta última encarnada no grupo de ACM, ganhou mais um contorno na agenda local. Em matéria divulgada pelo jornal A Tarde na última quinta-feira, dia 22/02, com destaque para chamada de capa, Jaques Wagner acusou a Rede Globo de ter dado destaque à violência no Carnaval baiano. Segundo ele, a matéria exibida pelo Jornal Nacional no último dia da folia, terça-feira, informava o acréscimo de 30% no número de ocorrências policiais registradas no evento desse ano em relação ao ano passado. Na opinião de Wagner, esta teria sido açodada por parte da Vênus Platinada. O governador rebateu com veemência: “Não sei a quem a Globo está prestando o serviço de difamar o Carnaval da Bahia”, alfinetou.
O petardo tem endereço certo. Wagner sabe que tudo que possa macular sua imagem no Estado será feito pelo grupo político agora na oposição. No caso em questão, estamos diante de uma bem estruturada estratégia de mídia. Analisemos por dois aspectos.
O primeiro repousa na forma e maneira encontrada pelas reportagens para dar dimensão ao fato. O enquadramento das notícias seguiu um curso determinado para torná-las negativas. Foi visível a todos que durante os dias da festa o Jornal Nacional apresentou, ou melhor, enquadrou o Carnaval da Bahia como “violento”, apenas. Não se preocupou, em nenhum momento, em trabalhar a informação contextualizando os dados estatísticos. Mais de um milhão de pessoas nas ruas por dia e 1200 registros de roubos e furtos e duas mortes é considerada uma média previsível pelos técnicos e autoridades em segurança pública em se tratando de um evento dessa dimensão. Um disparo contra uma van na periferia da cidade (fora do circuito do Carnaval) e a lamentável morte de uma criança foi realçado pelo Jornal Nacional como resultado da violência na folia baiana. O já falecido sociólogo e jornalista Perseu Abramo, em um ensaio sobre padrões de manipulação na grande mídia, aponta o padrão da inversão como uma das táticas de manipulação. Diz ele: “Fragmentando o fato em aspectos particulares, todos eles descontextualizados, intervém o padrão da inversão, que opera o reordenamento das partes, a troca de lugares e de importância dessas partes, a substituição de umas por outras e prossegue, assim, com a destruição da realidade original e a criação artificial de outra realidade”. Foi exatamente isso o que ocorreu.
Tal expediente coaduna-se com os intentos políticos da Rede Globo e sua parceira comercial-política, a Rede Bahia. Importante ressaltar que o ataque ao Carnaval da Bahia desse ano e, indiretamente, a Jaques Wagner, como já dito, tem o propósito de angariar dividendos políticos. Uma administração pautada no sucesso por parte deste refletirá no tabuleiro sucessório de 2010. Sabe-se que o PT e a coligação de partidos que o apóia no Governo Federal ainda não dispõe de quadros fortes para o próximo pleito. Wagner pode ser um e, diante mão, melhor bombardeá-lo no nascedouro. O Carnaval de Recife desse ano teve mais mortes do que o de Salvador, por quê a Globo então não destacou? E no Rio de janeiro? Lá foi tudo em paz? Ficam as perguntas. Outra: quem conhece a trajetória política do dono da Rede Bahia, o senador ACM, sabe muito bem o que ele pode fazer de agora em diante para recompor seu espaço político perdido. Órfão da Prefeitura e dos governos do Estado e Federal, o carlismo usará de todos os expedientes possíveis, inclusive os mais antiéticos e deploráveis, para retornar ao poder.
Outro fator é de caráter comercial. Desde que a Rede Bandeirantes começou a transmitir o Carnaval de Salvador seus índices de audiência vêm crescendo a cada ano e batido os índices da Globo no período. O Carnaval de Salvador já está sendo mais assistido no Brasil do que os desfiles das escolas de samba. Por sua vez, a afiliada da Vênus Platinada na terra, a TV Bahia, só contou com um grande cotista para bancar a publicidade na transmissão do Carnaval baiano, que ela fez para consumo regional. Apenas uma marca de tintas anunciou. Impedida de transmitir a folia ao vivo na maior parte dos horários da noite, engessada pelo Big Brother, o Sambódromo e o seriado Lost, restou à TV Bahia falar do evento da própria terra quase à meia noite. A Globo, por seu turno, como não abre mão de que o Brasil inteiro assista ao desfile das escolas de samba, um bairrismo que a emissora não assume mas que é patente, busca desconstruir a pluralidade de opções. E com um carioquismo exacerbado, não admite que o Estado do Rio perca receitas em turismo para a Bahia. Um bairrismo, diga-se, que se explica sobretudo pela questão econômica e, no que tange à Bahia de Wagner, com acentuada relevância política.
Comentários
Mas o q eu quero ressaltar aqui é que longe das confusões, o carnaval no Pelourinho foi maravilhoso. ìndize quase zero e muita alegria. Só mais uma coisinha, isso foi divulgado tanto regional quanto nacionalemnte?? não lembro!
Política suja dominando a comunicação imunda. São os porcos que se lambuzam, empurrando aos olhares simples dezenas de milhares de informações vazias,porém cheias de más intenções. Sofri com isso, caro professor. O Palco do Rock 2007 era procurado pela mídia(bem pouco), mas enquanto foi, violência foi tema a ser tratado em quase todas as entrevistas que dei, com quase todos os jornalistas que conversaram comigo. É meu caro, jornalismo sujo dominado por políticos imundos...ou será que comecei pelo contrário...não faz diferença!
Lembrando: Não houve ocorrências graves no nosso Palco do Rock. A Polícia Militar trabalhou de forma exemplar e podemos curtir 4 noites de rock and roll na paz. O público ordeiro continua de parabéns. Mas o jornalismo...a esse nem quis saber...os abutres nem divulgaram com um certo destaque.
abraço!
e zeca, assistir Lost é melhor do que ver o Carnaval =D iahahui
abraço mestre!
A Rede ACM, que também é chamada Rede Bahia, e sua paceira política-comercial a Rede Globo precisam de um lembrete: o povo brasileiro não é mais um quadro em branco, no qual se escreve o que se quer, sem que ocorra o menor questionamento. O povo sabe das artimanhas midiáticas (mesmo que no senso comum) para conseguirem audiência e etc. Não somos mais bôbos.
E como diria certo "Repórter-showman baiano": "a casa caiu"!!!
Valeu pelo texto Zeca, a Bahia precisa de mass medias assim.
Infelizmente os atuais meios de comunicação estão diretamente ligados a correntes políticas!
Tenho uma receita para a globo bater a band no carnaval, é somente colocar faustão todos os dias de carnaval, falando e mostrando reportagem sobre um urubu branco, que come na mão do dono, e so come carne de 1ª. Brincadeira viu!!Pelo amor de Deus!!!!aguenta meu irmão!
Estes dados apresentados e que temos aí, expostos de forma tão efusiva pela Rede Globo e TV Bahia há algumas semanas não representam, apenas, uma realidade relativa?
Ou há quem julgue que maior número de pessoas que registram ocorrências é igual a aumento de violência?
ventanias.blog.terra.com.br