Haja cinismo!
Não há mais limite para se fazer jornalismo instrumentalizado e sem ética na Rede Globo. Tomando emprestado o termo cunhado pelo jornalista e pesquisador Vinício Lima, novamente a emissora do Jardim Botânico apoiou-se na presunção da culpa para realizar sua cobertura sobre a tragédia envolvendo a aeronave da Tam em Congonhas, que teve mais de 180 vítimas. A edição do Jornal Nacional do dia 17, terça-feira passada, foi um palanque. A idéia que dava é que o avião sinistrado era pilotado pelo presidente Lula e seus assessores, e o acidente foi culpa direta do Palácio do Planalto. A reportagem do JN conseguiu misturar abacaxi com banana num mosaico de informações cujo propósito era evidentemente confundir os telespectadores. Antes mesmo do resultado de qualquer perícia técnica, já que a caixa-preta do Air-bus nem mesmo tinha sido enviada a Washington para exames, o âncora William Bonner praticamente apontava os culpados pela tragédia. Numa escala de culpabilidade, esta teria sido decorrente de negligências da Infraero e, via de conseqüência, do Ministério da Defesa e, por fim, do Governo Federal. Um avião que arremete antes da aterrisagem, que não tinha tido qualquer tipo de problema durante o vôo, e depois se choca com um prédio nas proximidades do aeroporto, reuniu no seu infortúnio todo o chamado apagão aéreo. Na retrospectiva da reportagem, ocorreu a exibição de diversos trechos de matérias anteriores que misturavam problemas de ordem gerencial das companhias aéreas, com a superlotação de aeroportos, a protestos de controladores de vôos. A ministra do Turismo Marta Suplicy figurou para ser defenestrada, assim como, de quebra, o próprio presidente. O assunto então foi repercutido junto a vozes da oposição, em especial a do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), que bateu: “nesse país não funciona mais nada: portos, aeroportos, ferrovias”. Como um abutre ensandecido sob as vítimas do acidente, a emissora da família Marinho não teve nenhum pruido ético para informar bem aos seus 65 milhões de telespectadores daquela faixa-horária. Uma vergonha. Explorando o sentimento das pessoas, a Vênus Platinada se utilizou delas para estabelecer suas teses golpistas e seu jogo sujo. Mediante a fisionomia do seu agente, o jornalista William Bonner, a Globo destilou seu cinismo quando o mesmo se apresentava consternado e, ao mesmo tempo, com certo ar de satisfação por ter em suas mãos mais um tacape de ataque contra o governo federal. E com a mesma feição, o mesmo jornalista apresentou a edição desta quinta-feira, 19, contradizendo o discurso da edição do dia 17. Com o arroubo de sempre, o âncora informou aos telespectadores que: “Conforme a reportagem da Globo havia apurado, o Air-bus da Tam já apresentava defeitos técnicos antes da decolagem”. O governo seria agora culpado pela falta de manutenção no avião? Num ato de desfaçatez sem precedentes, a edição destinou-se a ouvir especialistas que passaram a questionar a ausência de procedimentos técnicos na aeronave sinistrada. Não mais se falou em apagão aéreo ou problemas com controladores de vôos. As explicações para o sinistro limitavam-se às questões de ordem mecânica do avião. O fato é que, de forma espúria, aética e extremamente açodada, a reportagem do dia 17 foi utilizada para fins políticos no sentido de criar mais uma crise institucional no país, valendo-se de um acidente aéreo cujas causas nem mesmo foram apuradas. Mais uma vez a Vênus Platinada age como um verme de prontidão.
Comentários
Ah!não precisa me desqualificar de uma forma tão raivosa por descordar de algumas posições políticas-partidárias que assume, afinal sou um dos seus leitores mais assíduos.Estive com o Sr. Israel lá na Praia do Forte ele te mandou um abraço. Saudações..Zéu da Bahia.
Quanto ao texto vou citar uma frase do jornalista Mino Carta em palestra aqui em Salvador: "A classe média paulista é voto de cabresto. Ela bebe o Jornal Nacional, se posta todo dia diante daqueles dois cretinos que estão rindo sempre”.
Abraços!
eu estava já com náuseas de ver tanta manipulação "informativa". E a exposição excessiva da dor alheia?
Que critérios de noticiabilidade justificam várias edições do Jornal Nacional (JN), com quase sua totalidade, versando sobre esta "crise" no setor aéreo? Não há mais nada acontecendo no país? Nem mesmo os critérios tradicionais do próprio JN, que já são questionáveis (vide caso Carta Capital x Hommer), não são mais levados em conta. O RJ deixou de ser violento, São Paulo não tem mais problemas (a cratera do metrô, por exemplo, deve ter se auto-regenerado), os escândalos de corrupção se esvaíram, e, até Renan Calheiros escapou do bombardeio midiático do qual era alvo. Agora só o "apagão aéreo" é critério relevante. Ontem mesmo, o JN passou 2 blocos completos apenas tratando disso.
É como Zeca bem disse, tudo se resume a uma única palavra: enquadramento! Aliás, complementaria também com outras duas: Agenda Setting! A Globo tenta agendar e manter vivos nos noticiários e nas mentes dos seus telespectadores os acontecimentos que dizem respeito à aviação. E aí, vai tudo no mesmo balaio de gato: overbooking, problemas com mau-tempo, problemas de má gestão (pulso fraco da ANAC com as companhias, por exemplo) e problemas de infra-estrutura, fora os não abordados, como o crescimento anual e em larga escala da aviação civil nacional, sem os devidos investimentos que deveriam ter sido feitos ao longo do tempo e não só no Governo Lula (que também negligenciou a área). O importante é jogar a fatura de tudo no colo de Lula, que desde seu 1º mandato vem mostrando que seu Governo é incapaz de responder devidamente às acusações que lhe são imputadas.
O que mais me preocupa é ver que o cabresto mudou de lado. Antes tínhamos um povo chamado de ignorante (a classe pobre, paupérrima) que votava no cabresto dos coronéis. Agora são os integrantes da classe média que se encabrestam, não para os coronéis, mas para uma mídia com forte grau de influência e manipulação. E não se dão conta disso. Lampeiros, ainda reproduzem tudo, tin-tin-por-tin-tin (me desculpem se a grafia não for desta forma), o que a mídia lhes apresenta, sem nenhum senso crítico. Talvez fosse melhor fazer o que Rauzito já dizia: Vamos alugar o Brasil! Privatização dá a maior grana. Pena que quase ninguém vê a cor do dinheiro!
Um abraço
A culpa é de quem?
Hem?
Lula?
Tam?
Ou nós brasileiros?
Vou participar mais vezes...