Duas Caras; Agnaldo Silva chacota com o movimento estudantil



Movimento estudantil na novela das oito da Globo? Como assim? De forma sutil, o folhetim Duas Caras torna-se fiel ao título quando, aparentemente e de forma despretensiosa, apresenta uma manifestação de estudantes na fictícia Universidade Pessoa de Moraes. Os discentes “invadem” a universidade e provocam badernas e quebra-quebra. A dona da instituição (e do negócio!), a personagem Branca, interpretada pela atriz Suzana Vieira, resolve então chamar a polícia. “Invasão de propriedade privada é crime!”, justifica Branca. Mais: o líder do movimento, o personagem Heriberto, é um vilão que manipula os estudantes. É dessa maneira que a Rede Globo busca desconstruir a imagem do movimento estudantil que volta a se levantar país afora lutando contra o sucateamento do ensino público superior e a mercantilização da educação por parte da iniciativa privada. Interessante é que a filha da magnata Branca se sente preparada para assumir o negócio depois de fazer um “curso de verão” na Sorbone, em Paris, com o professor Fernando Henrique Cardoso. O cérebro pensante desse roteiro é o pit bull da vez da emissora, Agnaldo Silva, que apenas reedita folhetins previsíveis nos quais o bem e o mal são a extensão do consenso ideológico dos Marinhos. Aliás, existe local mais aprazível do que a favela da Portelinha? Todavia, segundo ele diz, a favela vai sofrer “um choque de realidade” com a chegada de traficantes, que serão expulsos pelo personagem Juvenal Antena à bala. Agnaldo Silva pretende então construir seu próprio capitão Nascimento? Bobagens recheadas que inebriam 40 milhões de telespectadores por noite. É com esse narcótico diário que a classe média no Brasil pretende aliviar o cansaço de um dia de labuta. A pobreza de conteúdo de maior parte da televisão brasileira é evidente. Mas não só isso. A construção ideológica nos folhetins globais é o pano de fundo, como se observa a tentativa de tirar a legitimidade do movimento estudantil. É como se dissesse: não pode existir; E se existe, é por motivos injustificáveis e banais. Enfim, é a Globo com seu reacionarismo militante sendo conduzido pela pena de Agnaldo Silva, um reacionário croquete a serviço dos barões da mídia.

Comentários

peu disse…
logo nas primeiras cenas da novela a personagem de leticia spiller sentiu vontade de comer frutos do mar no jantar. o marido sugeriu lula, ela prontamente retrucou: Lula não! lula é indigesto!
pra bom entendedor.. :)
Iracema Chequer disse…
Sempre bom ler seus textos amor!
E uma faixa dos estudantes na reitoria da Ufba dizia algo do tipo: "Capitão Naomar e sua política do cacetete"...
Anônimo disse…
O capitão Nascimento é a própria Rede Globo.

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