Quero ser excomungado!
Não sou católico, ainda que na primeira infância a violência simbólica do batismo tenha me afetado. Foi só um rito de passagem, apenas. Mas já que “oficialmente” a Igreja Católica me considera integrante do seu rebanho, aproveito o gancho para pedir publicamente minha excomunhão. Sim, quero ser excomungado pela Igreja. O pomo da discórdia foi a ordem dada pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, de excomungar os médicos e parentes da menina de 9 anos que teve que se submeter a um aborto devido ao estupro realizado pelo padrasto. Meu hipocritômetro atingiu o limite. Talvez a Igreja tenha achado que a violência cometida contra a criança não fosse grave. Dá pra entender: para uma instituição que acolhe milhares de pedófilos, uma criança a mais ultrajada e violentada pode não ser nada mesmo. A Igreja não estava se importando com o risco que a menina corria, até mesmo de morte, já que ela não tem estrutura física para conceber uma criança. Na opinião do arcebispo, "a lei de Deus está acima de qualquer lei humana. Então, quando uma lei humana, quer dizer, uma lei promulgada pelos legisladores humanos, é contrária à lei de Deus, essa lei humana não tem nenhum valor". Dom Cardoso não tem filhos, mas poderia se colocar no lugar de quem tem. Mas não, preferiu ser hipócrita. Sério, gostaria de saber em que momento Deus credenciou um bando de psicopatas sociais para lhe representar. Repito, exijo minha excomunhão, e quero que seja um processo célere. Rápido como aqueles casos de heresia que eles julgavam nos tribunais inquisitoriais e remetiam os réus às suas santas fogueiras. Desejo que esse apelo chegue aos ouvidos do bispo Primaz do Brasil ou mesmo do Vaticano. A partir de agora estarei esperando o ato, o ato da minha excomunhão. Prometo fazer uma festa, convidando Baco e Dionísio para celebrar esse momento solene em minha vida, meu desligamento total dessa peste que se instalou na face da Terra denominada Igreja Católica.
Comentários
Eles precisam de um Deus pra serem bons... nós não!
Abraço
Vinícius Alves
A ICAR possue regulamentos,normas que, sem entrar no merito, devem ser obedecidos por seus seguidores e praticantes. É assim em qualquer seita ou organização, sejam religiosas, profissionais, politicas ou sociais. É o código de ética de cada um. Quem não concordar, resta a opção de sair, mudar.
Nesse caso especifico, sem levar em consideração a criança envolvida, só o ato em si, o bispo não tinha outra alternativa. Ceder seria contrariar séculos de tradições.
O povo aproveitaria a brecha e viraria uma bagunça generalizada, tudo que lhes foi ensinado em séculos cairia por terra. Seria qase igual aceitar o casamento de Jesus com Madalena.
Que a ICAR precisa se atualizar e se adaptar aos novos tempos, não resta duvida; mas a coisa não é tão simples assim.
Há que se realizar um concilio analisar os fatos e reeducar o povo e o povo tem uma mania de distorcer tudo.
Aparecido
Ateu, graças a Deus!
Gostaria de saber a que "povo" vc se refere que presumivelmente " proveitaria a brecha e viraria uma bagunça generalizada, tudo que lhes foi ensinado em séculos cairia por terra". É uma piada? Qual outorga a ICAR tem para controlar "o povo"? E o que seria a "bagunça generalizada"? Olha, eu particularmente quero que vá às favas a ICAR e todos os séculos de ensinamento que essa nefasta instituição legou.
religião é uma desgraça mesmo
Faço coro pedindo a minha excomunhão imediata.
Deprimente a maneira que a igreja católica(a ausência de maiúsculas é proposital) trata uma brutalidade com a simplicade das regras e simplesmente julga de maneira estéril um caso de brutalidade assustadora.
Pior ainda é ver gente vindo, ante esse ato de barbárie, comungar com o protocolo da igreja católica achando que um caso como esse deve ser tratado mais com a burocracia eclesiástica do que com a emoção e a razão humana.
Afinal de contas, somos primordialmente católicos ou humanos?
A propósito, aqui é seu ex-aluno Ângelo Pinheiro. Aproveita e dá uma passadinha no meu blog recém-criado.
Lí seu texto e depois recebi esse cordel e não podia deixar de te enviar.
Grande abraço!
Cordel dos Excomungados
Peço à musa do improviso
Que me dê inspiração,
Ciência e sabedoria,
Inteligência e razão,
Peço que Deus que me proteja
Para falar de uma igreja
Que comete aberração.
II
Pelas fogueiras que arderam
No tempo da Inquisição,
Pelas mulheres queimadas
Sem apelo ou compaixão,
Pensava que o Vaticano
Tinha mudado de plano,
Abolido a excomunhão.
III
Mas o bispo Dom José,
Um homem conservador,
Tratou com impiedade
A vítima de um estuprador,
Massacrada e abusada,
Sofrida e violentada,
Sem futuro e sem amor.
IV
Depois que houve o estupro,
A menina engravidou.
Ela só tem nove anos,
A Justiça autorizou
Que a criança abortasse
Antes que a vida brotasse
Um fruto do desamor.
V
O aborto, já previsto
Na nossa legislação,
Teve o apoio declarado
Do ministro Temporão,
Que é médico bom e zeloso,
E mostrou ser corajoso
Ao enfrentar a questão.
VI
Além de excomungar
O ministro Temporão,
Dom José excomungou
Da menina, sem razão,
A mãe, a vó e a tia
E se brincar puniria
Até a quarta geração.
VII
É esquisito que a igreja,
Que tanto prega o perdão,
Resolva excomungar médicos
Que cumpriram sua missão
E num beco sem saída
Livraram uma pobre vida
Do fel da desilusão.
VIII
Mas o mundo está virado
E cheio de desatinos:
Missa virou presepada,
Tem dança até do pepino,
Padre que usa bermuda,
Deixando mulher buchuda
E bolindo com os meninos.
IX
Milhões morrendo de Aids:
É grande a devastação,
Mas a igreja acha bom
Furunfar sem proteção
E o padre prega na missa
Que camisinha na lingüiça
É uma coisa do Cão.
X
E esta quem me contou
Foi Lima do Camarão:
Dom José excomungou
A equipe de plantão,
A família da menina
E o ministro Temporão,
Mas para o estuprador,
Que por certo perdoou,
O arcebispo reservou
A vaga de sacristão.
Autor: Miguezim de Princesa - Poeta popular,
paraibano radicado em Brasília.