Blog da Petrobrás: a quem incomoda?



A grande imprensa do país fez ruidoso alarido pelo fato da Petrobrás ter criado um blog para esgrimar com os donos dos meios de comunicação, porta-vozes da oposição. Na Bahia não foi diferente. Um escriba que ocupa considerável espaço na mídia local chegou a bradar: “Petrobrás ataca a imprensa”. A princípio risível, a assertiva do jornalista denota a cordilheira de desconhecimento que lhe sepulta. Não, nobre escriba, a estatal não está atacando a imprensa e sim fazendo jornalismo de uma maneira inovadora e vanguardeira. E isso, sei, está lhe causando incômodo, assim como aos seus pares. A saber: a cultura política noticiosa no Brasil doravante será marcada por antes e depois desta bem-dosada iniciativa da estatal. É o fim da pedra no lago. Os outroras centros de irradiação de opinião começaram a perder audiência para as novas ferramentas de comunicação que vieram ancoradas com a Internet, e a blogosfera é uma delas. Vislumbra-se o início da desconstrução da opinião publicada que se tornava pública por força da imprensa, este grande filtro de interesses que agendou e em boa medida continua agendando o xadrez político da contemporaneidade. Um poder em acelerado processo de decomposição; jornais impressos perdem significativos contingentes de leitores e as emissoras de televisão hegemônicas procedem da mesma forma com seus telespectadores. Sim, nobre escriba, a comunicação de massa marcha para a multiderecionalidade, que vai superando o antigo formato unidericional. É a interatividade que dá curso a este novo tipo de jornalismo, a comunicação ponto a ponto. Ao responder aos grandes meios e publicar as respostas na íntegra, a Petrobrás mata no nascedouro a nefasta práxis da manipulação que se sustentava numa urdida engrenagem: a cada pergunta, uma resposta editada ao sabor da conveniência; e caso houvesse descontentamento da fonte, esta poderia recorrer a pouco eficaz carta à redação. Em resumo, a correção da resposta jamais existia, ficando a versão do órgão de imprensa como a palavra final. Um enredo que já trouxe muitos dividendos políticos às grandes corporações da mídia e que agora veem reduzir sobremaneira o espaço de manipulação. Descortina-se um novo ângulo de entendimento sobre a hipótese da agenda setting, uma vez que as “vozes” tradicionais, petrificadas nos antigos jornalões impressos e nas tradicionais emissoras de televisão, começam a sofrer concorrência de outras vozes que não se encontram encasteladas na mídia corporativa. O agendamento também passa a ser decorrente de outros tantos meios, de uma espécie de periferia midiática. As fontes agora têm mídia. Um passo decisivo para a democratização da comunicação. No caso do blog Fatos e Dados, da Petrobrás, este remete à subversão dos fluxos de informação e corrobora com um antigo intento da UNESCO, que já no final dos anos 70 preconizava uma nova ordem informativa internacional. E a Internet é a plataforma midiática que dá lastro a este objetivo, já que desenha uma nova vertebração nos meios de comunicação social. E como se trata de transformação estrutural na sociedade, é esperado que as vozes da reação se levantem, a exemplo do nobre escriba da Soterópolis que, ao que parece, ainda não conseguiu detectar esta nova situação. É bom que perceba para não ser fagocitado pelos fatos.

Comentários

Este comentário foi removido pelo autor.
Com uma enquete pra lá de tendenciosa, criminalizando o blog da Petrobras,a Folhona tentou provar que a voz do povo é reflexo do que pensa Deus, ou seja, a mídia nativa. Mas acabou dando com os burros n'água.

"Você aprova a decisão da Petrobras de vazar em blog as perguntas feitas por jornalistas para reportagens que ainda não foram publicadas?", questiona o diário paulista.

Resultado: de 5.018 votantes, 85% discordam da mídia gorda e aprovam a iniciativa da estatal brasileira.
Apenas 15% aprovam a campanha de rechaça ao weblog "Fatos e Dados".

Abraços,

veja em:
http://imprensamarginal.blogspot.com/
Bom Zeca. Nossa almoço está confirmado hoje. Quarta-feira.
É isso mesmo Zeca. A equipe de jornalismo da Petrobras está na vanguarda. Desde 2006, muitos jornalistas fazem esse trabalho de contrainformação através de notas e mensagens ideológicas contra as grandes coorporações. A tática adotado pelo Protogenes ganha força e a Petrobras contra-argumenta, abrindo uma enorme lacuna no discurso vazio da mídia na esfera pública. Um forte camarada.

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