Permita-me discordar, Liliana Peixinho
Li o artigo da jornalista e ambientalista Liliana Peixinho sobre o desempenho da candidata do PV, Marina Silva, no primeiro turno. Demasiado romântico e apaixonado. Apenas.
O texto cita que a “onda verde” foi forjada no “compromisso, identidade com a pauta ambiental de forma transversal, leveza, ética, muito trabalho e poucos recursos captados pelo próprio movimento”. Depois sustenta que o destino dos quase 20 milhões de votos dados a Marina vai depender “do desejo de uma plenária (...) será necessário ouvir o que esses núcleos vivos pensam sobre a força politica revelada nessas eleições”. E acrescenta: “o caminho da liberação dos votos, que não tem dono, poderá até ser sinalizado para nenhum dos dois lados, Dilma ou Serra”.
Salvando-se o “que não terá dono”, um lapso de lucidez, de resto é risível sua avaliação. A maioria dos votos destinados a Marina não tem nenhuma afinidade ideológica ou compromisso com a agenda ambiental.
A ex-ministra de Lula recebeu apoio de fundamentalistas evangélicos e católicos mesclados com votos de opinião ressentidos do governo Lula e também daqueles visceralmente anti-petistas e radicalmente anti-lulistas. Portanto, trata-se de uma mescla cujo prisma vai do ambientalista de esquerda ao mais aguerrido extremista de direita.
Diluamos então o tal do “compromisso” ambiental, uma vez que este não reflete um monólito de idéias ecológicas no conjunto do endosso nas urnas à Marina. Isso não existe.
O fato é que o voto em Marina se dispersará. Penso que Dilma poderá ganhar mais dividendos, uma vez que a maior parte sufragada à ambientalista decorre do descontentamento interno no campo progressista, inclusa aí a questão ecológica.
Bom lembrar que contingente expressivo desses votos poderá optar pelo nulo. E Serra abocanhará outra parte.
Não questiono aqui o compromisso de Marina com a pauta ambiental. É dela! É de quem correu de bala disparada por fazendeiros; é de quem ajudou Chico Mendes a enfrentar o poder político de poderosos no Acre.
E essa Marina não rifará seu capital político. Ninguém imagina vê-la apoiando alianças que integram líderes arrozeiros de Roraima e todo tipo de predador ambiental acoplado até a medula com a candidatura de Serra.
É diferente do arco de alianças de Dilma. Se tem setores conservadores, tem também movimentos sociais do campo e da cidade, e que são muito mais expressivos nesse bloco.
Mas o PV é outro papo.
É fantasia pensar que o destino dos votos de Marina dependerá de uma “plenária” que o partido fará com os “núcleos vivos” da sociedade. Qual mané plenária que nada!
O presidente nacional da legenda, o tucano-verde José Luiz Penna, braço de apoio a Serra e que controla com mão de ferro o PV, antes do primeiro turno ocorrer já havia batido o martelo em apoio ao candidato demotucano no segundo.
O PV paulista já decidiu e ponto final.
Na Bahia, o candidato da legenda ao governo, Luiz Bassuma, aquele que incorporou Carlos Lacerda, já está cumprindo o script. E com um adendo: encetando campanha terrorista difamatória contra Dilma Rousseff, afirmando que ela “quer matar criancinhas”.
Entre o sonho e a realidade, Liliana Peixinho se iludiu com sua vontade. Que é legítima, mas não explica o quadro em curso.
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