Um Irã construído dentro da campanha de Serra
“Candidatos a presidente e a vice, José Serra e Indio da Costa decidiram atender a pedidos de lideranças evangélicas e, durante a campanha do segundo turno, irão condenar o Projeto de Lei 122/2006, que transforma em crime a discriminação a homossexuais (...) Indio disse ao Informe que a proposta atenta contra a liberdade de expressão ao prever penas de prisão para manifestações consideradas homofóbicas. Segundo ele, se o projeto virar lei, um dono de restaurante será preso caso impeça um casal gay de fazer sexo em seu estabelecimento”.
O texto acima é um trecho de matéria publicada hoje na versão on-line do jornal O Dia, do Rio de Janeiro. Já manifestei algumas vezes a respeito dos rumos que a campanha está tomando.
Volto a falar.
Questões de ordem moral e comportamental têm dominado a agenda da grande imprensa num efeito catraca com a campanha de Serra (PSDB).
Temas que deveriam ser debatidos de forma racional e clara passaram a ser tabu, a exemplo do aborto, drogas, união civil de pessoas do mesmo sexo, lei que condena discriminação a homossexuais, entre outros.
Estar-se-á diante de um surto cristão fundamentalista no país? Fico a pensar. Mais do que contraditório, parece-me paradoxal.
Ao longo dos últimos oito anos as oposições martelaram a respeito da política externa do Brasil. Nesse diapasão, o caso do Oriente Médio é emblemático quando as miras se voltam ao Irã, na pessoa do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
A situação na república islâmica é um dos tacapes utilizados para desgastar a imagem do presidente Lula.
Chovem matérias e comentários de articulistas reagindo à suposta complacência do mandatário brasileiro com um país que desrespeita mulheres, minorias religiosas e vive sob brutal regime de força. Ainda que saibam, não querem dissociar diplomacia de posicionamento político. E só faltaram culpar explicitamente Lula pela condenação à morte da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani.
Adentrando a campanha eleitoral o tema continuou sendo explorado. Desta vez, para fustigar a imagem da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Para a entourage da campanha tucana, a ex-ministra, assim como Lula, coadunaria com o fundamentalismo islâmico.
Oportuno paradoxo. As forças midiáticas e políticas que construíram tais enquadramentos são as mesmas que agora afinam o discurso com a fina flor dos fundamentalismos evangélico e católico.
Não à toa a presença da Tradição, Família e Propriedade (TFP), entidade católica de extrema direita, na reunião de cúpula da campanha de Serra, ocorrida nesta quarta-feira, dia 6, em Brasília. A TFP distribuiu panfleto com instruções sobre como propagar uma campanha anti-Dilma na internet.
Se lhes é conveniente o fundamentalismo islâmico para uso eleitoral, o mesmo ocorre com o fundamentalismo cristão. Enquanto se critica o Irã, constrói-se outro dentro da campanha do PSDB com finalidade de usufruto político.
O jogo pseudo-moralista tem elasticidade ideológica, dependendo apenas das circunstâncias.
Se no país de Ahmadinejad concebe-se o apedrejamento público, aqui também o faz por outros meios. Não por apego a crenças, mas, sobretudo, para se utilizar delas de forma espúria.
É preciso que os setores esclarecidos da sociedade, inclusos católicos e evangélicos, intervenham nesta babel discursiva, que arrasta ódio e intolerância. O País não pode ficar refém de uma agenda atrasada e que revive antigos fantasmas do passado.
O texto acima é um trecho de matéria publicada hoje na versão on-line do jornal O Dia, do Rio de Janeiro. Já manifestei algumas vezes a respeito dos rumos que a campanha está tomando.
Volto a falar.
Questões de ordem moral e comportamental têm dominado a agenda da grande imprensa num efeito catraca com a campanha de Serra (PSDB).
Temas que deveriam ser debatidos de forma racional e clara passaram a ser tabu, a exemplo do aborto, drogas, união civil de pessoas do mesmo sexo, lei que condena discriminação a homossexuais, entre outros.
Estar-se-á diante de um surto cristão fundamentalista no país? Fico a pensar. Mais do que contraditório, parece-me paradoxal.
Ao longo dos últimos oito anos as oposições martelaram a respeito da política externa do Brasil. Nesse diapasão, o caso do Oriente Médio é emblemático quando as miras se voltam ao Irã, na pessoa do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
A situação na república islâmica é um dos tacapes utilizados para desgastar a imagem do presidente Lula.
Chovem matérias e comentários de articulistas reagindo à suposta complacência do mandatário brasileiro com um país que desrespeita mulheres, minorias religiosas e vive sob brutal regime de força. Ainda que saibam, não querem dissociar diplomacia de posicionamento político. E só faltaram culpar explicitamente Lula pela condenação à morte da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani.
Adentrando a campanha eleitoral o tema continuou sendo explorado. Desta vez, para fustigar a imagem da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Para a entourage da campanha tucana, a ex-ministra, assim como Lula, coadunaria com o fundamentalismo islâmico.
Oportuno paradoxo. As forças midiáticas e políticas que construíram tais enquadramentos são as mesmas que agora afinam o discurso com a fina flor dos fundamentalismos evangélico e católico.
Não à toa a presença da Tradição, Família e Propriedade (TFP), entidade católica de extrema direita, na reunião de cúpula da campanha de Serra, ocorrida nesta quarta-feira, dia 6, em Brasília. A TFP distribuiu panfleto com instruções sobre como propagar uma campanha anti-Dilma na internet.
Se lhes é conveniente o fundamentalismo islâmico para uso eleitoral, o mesmo ocorre com o fundamentalismo cristão. Enquanto se critica o Irã, constrói-se outro dentro da campanha do PSDB com finalidade de usufruto político.
O jogo pseudo-moralista tem elasticidade ideológica, dependendo apenas das circunstâncias.
Se no país de Ahmadinejad concebe-se o apedrejamento público, aqui também o faz por outros meios. Não por apego a crenças, mas, sobretudo, para se utilizar delas de forma espúria.
É preciso que os setores esclarecidos da sociedade, inclusos católicos e evangélicos, intervenham nesta babel discursiva, que arrasta ódio e intolerância. O País não pode ficar refém de uma agenda atrasada e que revive antigos fantasmas do passado.
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